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Projeto Fio da Vida: transformando vidas por meio da arte e da solidariedade

Em dezembro de 2022, nasceu o inspirador projeto Fio da Vida, no consultório da renomada pneumologista Dra. Marina Andrade Lima, do Hospital Dia do Pulmão em Blumenau, SC. A ideia surgiu após uma conversa com uma de suas pacientes, Andrea Cruz, de 47 anos, que expressou sentir-se incapaz de realizar suas atividades, devido às limitações impostas pela doença pulmonar.

Artesã Andrea Cruz

Questionada pela médica sobre atividades que traziam alegria para sua vida, Andrea revelou, sem hesitar, que sua maior paixão era o crochê, uma habilidade que havia aprendido na infância enquanto vivia em um orfanato.

“Com apenas quatro anos de idade, minha irmã e eu fomos enviadas para o Lar das Meninas. Apesar de termos sido calorosamente acolhidas pelas tias e freiras da época, eu sofri bastante, sendo uma criança doente e atormentada pela asma. O chiado em meu peito me privava do sono, então, até os 12 anos, eu me encontrava trancada em um guarda-roupa, rezando para não incomodar as outras meninas. Diante disso, busquei refúgio na fé e na arte, aprendendo a fazer crochê e costura”, contou Andrea.

Visita ao orfanato onde Andrea cresceu.

Aos 12 anos, Andrea passou por uma cirurgia, que possibilitou um sono mais tranquilo. Mas a vivência daqueles anos iniciais marcou para sempre o seu presente e futuro.

“Meu artesanato, minha habilidade em conversar com as pessoas são frutos daquela época. Então, com o surgimento do Fio da Vida, posso dizer, com toda certeza, que eu me reconstruí! Encontrei, na expressão da minha arte e no calor das conexões com o grupo, a reconstrução do meu ser, a redescoberta do meu valor como indivíduo e a alegria de contribuir para algo maior do que eu”, comemorou.

Concebido em parceria com a Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (ABRAF), o Fio da Vida tem como propósito elevar a autoestima dos pacientes, promover apoio mútuo e oferecer oportunidades por meio da arte para geração de renda. Esse apoio possibilita que os pacientes possam custear seus tratamentos e adquirir medicamentos por meio da venda de produtos artesanais em feiras locais e online.

Artesãs e apoiadores reunidos em feira de artesanato.

Atualmente, o grupo é composto por 16 pacientes artesãs de diversas cidades de Santa Catarina, enfrentando uma variedade de condições respiratórias, como asma grave, bronquiectasias, sequelas da COVID-19 prolongada, hipertensão pulmonar (HAP e HPTEC), fibrose pulmonar e DPOC. Além dos pacientes, o projeto conta com o apoio essencial de cuidadores, em sua maioria familiares dedicados e voluntários engajados.

E é inegável que o projeto impacta profundamente a vida de seus participantes. Para Terezinha Waltrich Westphal, 78 anos, paciente de DPOC, o Fio da Vida trouxe um novo sentido à sua existência. “Antes, minha rotina se resumia a casa, médico, médico, médico, casa. Eu vivia em função da doença! Agora, deixei a doença de lado e me dediquei ao crochê. Trabalhar com isso me faz muito bem”, destacou.

Além da alegria adquirida com a produção artística e um novo trabalho para chamar de seu, o projeto também influenciou diretamente a autoestima da paciente. “Eu amo me arrumar, fazer a unha bem bonita e ir para a feira apresentar meu trabalho, vender e receber que é o mais importante, né? Adoro fazer isso!”, celebrou.

Dona Terezinha fazendo o que ama.

De acordo com a filha e cuidadora de dona Terezinha, Angelita Márcia Westphal, 53 anos, que também é artesã do Fio da Vida, a primeira vez que a mãe decidiu ir à feira foi bastante assustador e ao mesmo tempo inesquecível. “Antes de sair, ela teve uma crise de pânico em casa. Eu me desesperei, pensando que talvez tivesse cometido um erro ao incentivá-la a ir. Cheguei a considerar levá-la ao hospital em vez de levá-la à feira, com medo de que algo grave acontecesse. Ela estava emocionalmente abalada”, contou.

Apesar do receio inicial, muito pautado na introdução de algo novo em sua vida, Terezinha não desistiu. “Normalmente as feiras duram dois dias e, ao retornarmos para casa, imaginei que ela fosse desistir de participar do segundo dia de feira. Mas, para minha surpresa, ela mal podia esperar para voltar! Em seguida, outra feira foi marcada, e ela já estava se preparando, cuidando das unhas e se empoderando para enfrentar o evento. Pequenos gestos diários mostraram o quanto ela se fortaleceu, e isso é verdadeiramente incrível.”, enfatizou a filha.

Dona Terezinha e Andreia: unidas pelo crochê.

Além da autoestima, Angelita destaca que o trabalho também trouxe confiança e mais autonomia para dona Terezinha. “Em novembro do ano passado, enfrentei um grave problema de saúde e enquanto eu estava no hospital, passando por uma cirurgia de urgência e na UTI, dona Terezinha foi à feira sozinha!”, contou orgulhosa. “As pessoas do grupo foram incrivelmente atenciosas e solidárias com ela, dando-lhe apoio e cuidado. Além de lidarem com suas próprias doenças, elas têm um jeito acolhedor e reconfortante, aquele olhar que transmite cuidado genuíno ao ajudar uns aos outros. Esse é o diferencial do grupo: a capacidade de cuidar uns dos outros, e vejo nisso a verdadeira importância por trás de cada técnica e arte que praticamos”, elogiou.

Devido ao estado de saúde delicado, Angelita está afastada do trabalho desde outubro. Começou a se dedicar mais ao artesanato, criando peças para a Páscoa e explorando novas técnicas. “Essa atividade tem sido fundamental para ocupar minha mente e desviar o foco da doença. É um momento em que deixamos de lado as preocupações com a saúde para nos envolvermos na produção de algo significativo e prazeroso”, concluiu.

No universo do Fio da Vida, a diversidade de produtos artesanais é impressionante, abrangendo técnicas como crochê, macramê, amigurumi, pontilhismo, biscuit, tear, além de gravação e corte a laser personalizado. Essa variedade reflete a criatividade e habilidade dos participantes, tornando cada peça única e carregada de significado.

Rosemari Haak Tieges, coordenadora das atividades da ABRAF em Santa Catarina e líder do projeto, destaca a importância desse projeto na vida dos artesãos envolvidos, ressaltando o impacto positivo que a arte e a solidariedade têm na jornada de superação e empoderamento desses pacientes. “O Fio da Vida não tece apenas peças artesanais, mas laços de esperança, resiliência e comunidade, demonstrando que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de transformação e inclusão social”, arrematou.

Além de entrelaçar as histórias desse grupo de mulheres, o projeto redefiniu a rota e os propósitos de vida para cada uma delas. De um passado marcado pela adversidade, emergiu uma comunidade de artesãs unidas não apenas por fios e agulhas, mas por laços de dignidade e solidariedade.

Para saber mais sobre o projeto e adquirir a arte produzida, clique aqui.