O jovem pesquisador Dr. Paulo Miranda Cavalcante Neto conta como foi a interação com especialistas internacionais no Congresso da American Thoracic Society 2022.
SBPT – Qual foi o tema do trabalho que o senhor apresentou e o que motivou o desenvolvimento desta pesquisa?
PMCN – Apresentei um relato de caso e um trabalho original. O relato de caso se tratava de um paciente com artrite reumatoide que utilizou uma medicação e desenvolveu reação sarcoide. Após a troca do medicamento, houve redução quase total das alterações pulmonares na tomografia de tórax.
Fizemos uma revisão da literatura e os avaliadores se interessaram bastante pelo caso. Inclusive, fomos convidados para assistir ao lançamento do estudo fase 3 de uma nova medicação para tratamento da sarcoidose.
O trabalho original trata-se dos resultados parciais da minha tese de doutorado em Pneumologia pela UNIFESP/EPM, orientada pelo Dr. Carlos Alberto Pereira e Dra. Maria Raquel.
Avaliamos retrospectivamente os pacientes com pneumonia de hipersensibilidade fibrótica com achados autoimunes. Recebemos avaliação de diversos especialistas internacionais em Doença Pulmonar Intersticial (DPI), como Dr. Michael Kreuter, da Alemanha, e Dr. Chad Newton, do grupo do Texas.
SBPT – O senhor teve a oportunidade de discutir os achados com outros estudiosos da área? Como foi?
PMCN – Sim. A troca de experiências é um marco dos congressos da ATS. Tanto no trabalho original, quanto no relato de caso, diversos especialistas nos abordaram para tirar dúvidas a respeito dos nossos trabalhos.
SBPT – O senhor poderia mencionar outros trabalhos que lhe chamaram a atenção, caso se lembre?
PMCN – Sim. Participei do Curso pré-congresso de pós-graduação em Doença Pulmonar Intersticial no dia 14/05, onde pudemos assistir aulas interessantes e discutir com Dr. Vicent Cottin, Dra. Marlies Wijsenbeek, Dra. Elisabetta Renzoni, Dr. Chad Newton, Dra. Erica DaVonne.
Esperávamos por algumas apresentações de publicações:
– O RECITAL Trial foi um estudo duplo cego, randomizado, controlado que comparou uso de Ciclofosfamida x Rituximab em DPI secundário a Doença do Tecido Conectivo, apresentado pelo Dr. Toby Maher, do Brompton de Londres.
– O MANDALA Study, estudo que comparou eficácia e segurança de SABA+CI x SABA em pacientes com asma moderada a grave.
– A apresentação da Diretriz de Fibrose Pulmonar Idiopática 2022 e a Diretriz de Fibrose Pulmonar Progressiva pelo Dr. Raghu.
– Foi possível conhecer o inalador do Treprostinil, medicação inalatória liberada pelo FDA para tratamento da Hipertensão Pulmonar do Grupo 3, que atua na via do óxido nítrico.
– Houve sessões totalmente dedicadas a ILA (Interstitial Lung Abnormalities) que estão sendo bastante discutidas em todo o mundo.
SBPT – Na sua percepção, como está a representatividade da ciência brasileira no cenário internacional e como foi a participação dos pesquisadores do país especificamente neste congresso?
PMCN – Acredito que em 2019, a presença brasileira foi maior que em 2022. Com a pandemia, muitos colegas não puderam vir para o evento presencial.
A despeito disso, tivemos o privilégio de assistir à Dra. Juliana Ferreira da UTI-Respiratória do Incor/HCFMUSP ser homenageada e isso nos enche de orgulho.
SBPT – Na sua opinião, o que falta para que mais brasileiros despontem na ciência em saúde respiratória?
PMCN – Incentivo financeiro, com bolsas para que possamos realizar pesquisas e apresentar nossos dados, pois nossos ambulatórios são de alto nível.