De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)¹, 90% da população mundial está exposta a concentrações de poluentes acima dos limites recomendados.
A poluição do ar, tanto em ambientes externos como internos, causa aproximadamente 7 milhões de mortes por ano. Em torno de 80% dos óbitos são por doenças não transmissíveis e 20% por infecções respiratórias, principalmente pneumonias.
Desse total, cerca de 3,8 milhões de óbitos são atribuíveis à inalação de fumaça produzida pela queima de biomassa (madeira e outros resíduos orgânicos) no interior dos domicílios. As populações mais afetadas são mulheres e crianças das áreas rurais ou da periferia urbana, sendo que 90% dessas mortes acontecem principalmente nos países mais pobres da Ásia, África e América¹, ².
Nas grandes cidades, as principais fontes de poluição atmosférica são a queima de combustíveis fósseis pelos veículos automotores e as emissões de indústrias e usinas termoelétricas.
Indicadores de morbidade e mortalidade mostram que a poluição do ar é responsável por:
• Mais de um terço das mortes por doenças cardiovasculares.
• Um a cada cinco óbitos por acidentes cerebrovasculares (AVC).
• Infecções respiratórias agudas, principalmente em crianças
• Crises de asma brônquica.
• Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
• Quase 10% dos óbitos por câncer de pulmão.
O mapa mundi na figura abaixo³ mostra a taxa de mortalidade atribuída à poluição do ar em 2016 por país, com percentuais que variam de até 5% (cor azul escuro) a 25% (cor vermelha). O diâmetro dos círculos de cor violeta sobre alguns países é proporcional ao número de estações de monitoramento da qualidade do ar ali existentes.
Conferência Global da Organização Mundial de Saúde
De 30 de outubro a 1º de novembro de 2018, ocorreu em Genebra (Suíça) a Primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição Atmosférica e Saúde4. Na ocasião, gestores governamentais, membros de comitês científicos e representantes de organizações ambientais manifestaram a necessidade de medidas urgentes para prevenir as doenças e mortes relacionadas à poluição.
As principais estratégias globais recomendadas para atingir essas metas são:
• A intensificação da cooperação internacional e intersetorial para a redução das emissões de gases e material particulado.
• O desenvolvimento de cidades e assentamentos sustentáveis, de acordo com os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU5.
O controle da poluição do ar é especialmente importante para reduzir a mortalidade por pneumonia em crianças menores de cinco anos. Mais da metade dos óbitos por pneumonia nessa faixa etária estão associados a esse fator de risco. Além disso, a exposição precoce ser um fator preditivo para o desenvolvimento posterior de doenças respiratórias crônicas.
Por sua vez, os idosos, os portadores de doenças respiratórias e cardiovasculares, os diabéticos, os fumantes e os trabalhadores expostos ocupacionalmente são os grupos da população adulta que sofrem o maior risco de adoecerem ou morrerem pelos efeitos da exposição à poluição do ar4.
Algumas das principais recomendações práticas da Primeira Conferência para os países membros foram:
• Planejar e executar alternativas de mobilidade com menor impacto ambiental, como a bicicleta ou o transporte público.
• Reduzir a queima de combustíveis fósseis (gasolina, Diesel e carvão),
• Desenvolver projetos para a melhoria da qualidade do ar no interior de domicílios onde se pratica a queima de biomassa.
• Prover o acesso a fontes de energia mais limpas, como a eólica e a solar.
• Implementar a vigilância e a regulação ambiental pelas agências governamentais.
Incentivar o uso da bicicleta como meio de locomoção previne dois dos principais fatores de risco para o adoecimento e o óbito precoce: a exposição à poluição e o sedentarismo.
Porém, transitar de bicicleta ou praticar atividade física no ambiente urbano também exige cuidados. O exercício físico intenso eleva a frequência respiratória e aumenta relativamente o contato das vias aéreas e alvéolos com os poluentes que contaminam o ar inalado.
A Comissão de Doenças Ocupacionais e Ambientais da SBPT recomenda que a prática da caminhada, corrida ou ciclismo seja realizada, preferencialmente:
• Em vias secundárias de tráfego ou parques, evitando avenidas ou rodovias com grande circulação de veículos.
• Em horários com menos trânsito de veículos e menos ensolarados, já que a radiação ultravioleta facilita a formação secundária de ozônio na troposfera.
As cidades e regiões que dispuserem de uma rede de monitoramento da qualidade do ar devem divulgar diariamente esses resultados para que a população reconheça os períodos sazonais com picos de concentração de poluentes.
Veja mais recomendações para evitar as consequências da poluição atmosférica em entrevista com o coordenador da Comissão Científica de Doenças Ocupacionais e Ambientais da SBPT, Carlos Nunes Tietboehl Filho, ao Programa Saúde, da Ulbra TV, de Porto Alegre (RS):
O Dr. Carlos lembrou do impacto causado pela queima da cana na área rural do Brasil no desenvolvimento de doenças respiratórias e cardiovasculares.
Informações:
Comissão Científica de Doenças Ocupacionais e Ambientais da SBPT.
Imagem de destaque: rawpixel.com / Freepik.
Referências:
¹http://www.who.int/news-room/detail/02-05-2018-9-out-of-10-people-worldwide-breathe-polluted-air-but-more-countries-are-taking-action
²https://www.who.int/phe/news/clean-air-for-health/en/
³http://datadriven.yale.edu/urban/issue-profiles/air-pollution/
4http://www.who.int/airpollution/events/conference/en/
5https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf