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08/04: Dia Mundial de Combate ao Câncer

Algumas instituições de saúde consideram 8 de abril o Dia Mundial de Combate ao Câncer. Outras, endossam a campanha em 4 de fevereiro. Seja qual for o dia escolhido, é sempre válido compartilhar informações sobre o assunto.

O câncer de pulmão é a neoplasia que mais mata no mundo, responsável por aproximadamente 2 milhões de casos e 1,7 milhão de óbitos a cada ano.

Apenas no Brasil, mesmo considerando possíveis subestimativas, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) projeta a incidência de mais de 31.000 casos anuais e mortes acima de 27.000.

Estima-se que cerca de 80% dos casos de câncer de pulmão sejam atribuíveis ao tabaco (incluindo as exposições passivas dos não fumantes), o que coloca o cigarro (e todas as outras formas de consumo de tabaco, como charuto, cachimbo, narguilé, etc) como o maior fator de risco evitável no adoecimento e morte por neoplasias pulmonares.

Cerca de 70% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em estádios avançados, o que repercute diretamente em sobrevidas mais curtas e menores possibilidades de tratamentos efetivos.

Isso acontece devido ao fato de que, em estágios iniciais da doença, o câncer de pulmão pode não provocar sintomas, ou esses podem se mesclar às queixas frequentemente reportadas por pacientes com doenças respiratórias crônicas. Assim, surge a necessidade de flagrarmos a doença antes da manifestação de sintomas, e daí veio o conceito e a proposta do rastreamento.

O rastreamento é a aplicação sistemática de um determinado teste em indivíduos sem sintoma ou suspeita de doença, mas com um risco suficiente de uma determinada condição que venham a se beneficiar de outros métodos diagnósticos ou procedimentos médicos na investigação.

No câncer de pulmão, diversos métodos diagnósticos (como a radiografia de tórax e a pesquisa de células tumorais no escarro) foram testados ao longo da segunda metade do século XX e primeiras duas décadas do séc. XXI, no intuito de não apenas identificar mais precocemente a doença, como também de minimizar os riscos de indicar procedimentos adicionais. Esses métodos não se mostraram efetivos em reduzir a mortalidade por câncer.

Restava então a tomografia computadorizada, que especialmente após o desenvolvimento de novas técnicas de baixa dosagem de radiação (década de 1980) possibilitaria um teste bastante sensível para detectar lesões suspeitas em pacientes de alto risco (especialmente fumantes e ex-fumantes).

Dentre os estudos, o NELSON avaliou o impacto da tomografia de baixa dose (comparada ao seguimento clínico) em voluntários residentes na Bélgica e Países Baixos, em uma amostra de pouco mais de 15.000 participantes (contra os mais de 53 mil do NLST), predominantemente do sexo masculino.

Os critérios de inclusão foram a idade entre 55 e 74 anos e o consumo de tabaco de pelo menos 10 cigarros por dia por 30 anos ou superior a 15 cigarros por dia por 25 anos.

Este estudo demonstrou uma redução do risco de morte por câncer de pulmão de 25% nos homens (a amostra de mulheres foi insuficiente à análise) sem, todavia, detectar redução na mortalidade geral.

Diversas sociedades de especialidades médicas e vários órgãos consultivos e entidades oficiais de saúde de países da Europa, Ásia, América do Norte e Oceania redigiram suas diretrizes de recomendação do rastreamento de câncer de pulmão, adotando crivos semelhantes como o intervalo de idade e padrão de consumo de cigarros.

Prevenção no Brasil

No Brasil, apesar do notável êxito na redução da prevalência do tabagismo ao longo das últimas três décadas, o câncer de pulmão ainda é o segundo mais incidente nos homens e o quarto entre as mulheres, sendo atualmente a neoplasia com maior mortalidade no sexo masculino e a segunda no sexo feminino.

Nesse cenário ainda temos que considerar a grande heterogeneidade de acesso aos serviços de saúde nas diferentes regiões do país, além da distribuição bastante desigual de equipamentos e profissionais de saúde  – entendendo-os como não apenas os tomógrafos, mas, muito além, as unidades de saúde em que esses pacientes serão acompanhados, para onde serão referenciados em casos de achados positivos dos exames e especialistas das áreas afins (pneumologistas, cirurgiões torácicos, radiologistas, patologistas, oncologistas, radioterapeutas, entre outros).

O custeio de um programa de rastreamento, aplicável no Brasil a milhões de pessoas a cada ano, seria também um desafio em si, por toda a dimensão populacional dessa estratégia, que trespassa em muito a visão simplista de realização e laudo de exames de imagem.

Por isso, o delineamento de uma estratégia nacional de rastreamento de câncer de pulmão, planejada para ser exequível, sustentável e efetiva na nossa realidade, ainda se encontra em discussão entre Ministério da Saúde, Secretarias de estados da Saúde e sociedades médicas.

Mesmo com a implementação de programas de rastreamento do câncer de pulmão com as melhores tecnologias existentes e disponíveis, a maior parcela dos casos, infelizmente, não será rastreada, cabendo reforçarmos que a maior oportunidade que temos para redução de mortes por essa doença é através da prevenção, ou seja, evitar que as pessoas fumem (e sejam expostas ao tabagismo passivo) e auxiliar os pacientes a deixarem de fumar.

Nenhum consumo de tabaco é seguro. Em outras palavras, mínimos consumos ocasionais estão associados ao aumento do risco de câncer.