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Trocar cigarro por cigarro eletrônico ou cigarro de tabaco aquecido não é estratégia de saúde pública comprovada ou segura para parar de fumar, dizem SBPT e SPP

As Sociedades Brasileira e Portuguesa de Pneumologia e Tisiologia (SBPT e SPP) alertam com preocupação que a decisão do Ministro da Saúde da Inglaterra, Neil O’Brien, de distribuir kits gratuitos contendo cigarro eletrônico para um milhão de fumantes no país não é uma estratégia de saúde pública comprovada nem segura para diminuir a elevada carga de doença e morte prematura causada pelo tabagismo de cigarros combustíveis.

A campanha “swap to stop” (“trocar para parar”) foi anunciada por O’Brien em discurso no Policy Exchange, na terça-feira (11/04). De acordo com o Ministro de Saúde Inglês, “vaporizar” seria uma “ferramenta poderosa” para ajudar as pessoas a parar de fumar e, junto com iniciativas de prevenção à iniciação ao fumo, contribuiria para zerar as taxas de tabagismo na Inglaterra até 2030.

A posição das autoridades de saúde inglesas não segue as boas práticas da Medicina baseada em evidências científicas e da ética médica “primum non nocere”, ou seja, “primeiro não prejudicar”. Não segue também o princípio de precaução de saúde pública, já que existe farta documentação científica dos prejuízos à saúde causados por estes produtos.

Os cigarros eletrônicos não são nem dispositivos médicos nem medicamentos, são produtos de consumo banidos em mais de 40 países, entre eles, o Brasil, que fornecem nicotina inalada além de outras quase 2 mil substâncias. Já foram identificados compostos tóxicos, irritantes e até carcinogênicos, muitos deles, não especificados pelos fabricantes.

“Esses aparelhos também oferecem perigos específicos, como o vazamento de metais pesados no filamento aquecido, aumentando o risco de câncer, adoecimento por síndrome respiratória aguda e explosão do dispositivo, por exemplo. Portanto, não existe o uso ‘terapêutico’ alardeado pela indústria e pelo governo britânico”, ressalta o pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da SBPT. “Como esses dispositivos fornecem nicotina, que causa grande dependência, e outros produtos tóxicos, os usuários acabam persistindo no uso continuado, podendo sofrer os efeitos negativos na saúde e adoecer”, complementa a Dra. Sofia Ravara, presidente da Comissão de Tabagismo da SPP.

Por outro lado, os tratamentos da dependência do tabaco são clinicamente eficazes, seguros e muito custo-efetivos em comparação com outras intervenções médicas.  A melhor maneira de parar de fumar é uma combinação de aconselhamento comportamental e farmacoterapia. A associação desses métodos é mais eficaz do que qualquer um deles isoladamente. Portanto, os profissionais de saúde devem incentivar todos os fumantes a fazer uma tentativa de cessação do tabagismo usando aconselhamento médico e medicação. Enquanto os sistemas de saúde devem apoiar os profissionais de saúde na disponibilização e integração desses tratamentos eficazes ao nível do sistema de saúde, com um custo financeiro acessível para os fumantes.

De maneira preocupante, a indústria do tabaco e dos cigarros eletrônicos tem usado um marketing contundente e difícil de controlar, por meio de influenciadores digitais nas redes sociais, para promover o tabaco aquecido e os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) como seguros e eficazes na cessação do tabagismo.

“Diversos estudos epidemiológicos em diferentes países, desde a América do Norte e do Sul até à Europa e Ásia, têm mostrado uma experimentação e consumo crescente desses produtos entre a população, sobretudo nos adolescentes e adultos jovens. Na Europa, os inquéritos do Eurobarômetro revelam uma tendência decrescente da cessação assistida pelos cuidados de saúde, enquanto parar de fumar sem assistência médica ou usando os cigarros eletrônicos tem crescido. Essas tendências são estarrecedoras e resultantes do marketing enganador da indústria”, pontua a Dra. Ravara.

“A ciência já comprovou que os cigarros eletrônicos não ajudam quem está tentando parar de fumar a fazê-lo. Na revisão sistemática e meta-análise ‘E-cigarettes and smoking cessation in real-world and clinical settings’, publicada por Kalkhoran e Glantz na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, pessoas que tentaram parar de fumar cigarro convencional utilizando cigarros eletrônicos tiveram 28% menos chance de sucesso do que os que não utilizaram esses dispositivos”, comenta o pneumologista Dr. Paulo Corrêa.

Segundo o especialista, muitos estudos que supostamente comprovam que esses dispositivos ajudam a parar de fumar têm conflitos de interesse, além de problemas de metodologia e execução.

“Não existe cigarro bonzinho”, alerta o Dr. Paulo Corrêa. “Se você nunca tiver fumado cigarros, não inicie o uso de produtos de tabaco aquecido nem de DEFs. Se você está utilizando um ou mais desses produtos, saiba que o processo de parar de fumar é a melhor ação que você poderá fazer pela sua saúde. O tratamento com um profissional habilitado inclui avaliação e atuação em múltiplos fatores, como o estabelecimento do perfil comportamental do paciente, a presença ou não de doenças causados pelo tabagismo/nicotismo, e sua gravidade, o grau de dependência de nicotina, entre outros. O tratamento envolve um plano de ação definido junto com o paciente, caso a caso, com técnicas de relaxamento e de manejo de fissura e, quando indicado, acompanhamento psicológico e terapia medicamentosa, incluindo reposição de nicotina e/ou uso da bupropiona ou da citisina (disponível em Portugal), que atuam nas vias cerebrais da dependência”, explicam os pneumologistas.

Uso de cigarro eletrônico e narguilé no Brasil: um cenário novo e emergente. O estudo Covitel, 2022

Em artigo original publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia vol. 49, n. 1 / 2023, cientistas detectaram que há um possível aumento de experimentação e uso atual de cigarros eletrônicos e narguilé no Brasil.

Os pesquisadores analisaram os dados do inquérito telefônico Covitel 2022, cuja amostra é composta de 1.800 indivíduos maiores de 18 anos de idade, provenientes das cinco macrorregiões brasileiras.

Segundo a análise, as prevalências de história de uso de cigarro eletrônico e narguilé foram idênticas (7,3%), enquanto a prevalência de consumo atual de cigarros industrializados foi de 12,2%.

Adultos jovens (18-24 anos) apresentaram as maiores prevalências de experimentação de cigarro eletrônico (19,7%) e de narguilé (17%).

Na discussão do estudo, os cientistas demonstraram preocupação com “um novo caminho em direção à dependência de nicotina”, já que a indústria criou esses dispositivos especificamente para essa faixa etária.

Além disso, o uso foi maior entre moradores da região Centro-Oeste do país e com maior escolaridade.

“Vigilância e políticas públicas são essenciais para o monitoramento e prevenção do uso da nicotina sob forma de cigarro eletrônico”, destacou a Dra. Ana Maria Baptista Menezes, primeira autora do artigo.

Dia Internacional da Mulher: artigo abordará os desafios do tabagismo entre o público feminino

Um grupo de onze autores liderado pelo coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da SBPT, Dr. Paulo Corrêa, lançará o paper “The challenge of tobacco and nicotine use among women” na edição de março da Revista da Associação Médica Brasileira (RAMB).

A publicação será dedicada especialmente ao Dia Internacional da Mulher, lembrado em 8/3.

Entre os autores do artigo estão a Profa. Dra. Sofia Ravara, membro da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), e pneumologistas das Comissões Científicas de DPOC e Doenças Intersticiais Pulmonares da SBPT, em parceria inédita entre Comissões da Sociedade.

Para falar sobre essas particularidades e também sobre os cigarros eletrônicos, os pneumologistas da SBPT convidam para o debate ao vivo no Instagram, que será realizado na terça-feira (7/3), às 19h.

Entre aqui em @pneumosbpt.

Estudo avalia a prevalência e uso de narguilé e cigarros eletrônicos entre estudantes de Medicina

Em estudo multicêntrico publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia (vol. 49, n. 1 / 2023), os pesquisadores investigaram sobre o conhecimento e experimentação de cigarro convencional, narguilé e cigarro eletrônico entre 700 estudantes de Medicina incluídos na amostra.

“Nosso estudo investigou sobre o conhecimento, crenças, comportamento, questões relativas à religiosidade e qual a atratividade que o cigarro convencional, narguilé e cigarro eletrônico exercem sobre uma população que, teoricamente, tem mais acesso a informação científica de qualidade”, explica a Dra. Stella Martins, primeira autora da pesquisa.

“Curiosidade e aroma/sabor foram os principais motivos para o uso de narguilé e a experimentação de cigarros eletrônicos. Ter irmãos, amigos ou pais fumantes impacta no comportamento de experimentação dos três produtos. Além disso, o uso do cigarro eletrônico para parar de fumar não foi eficaz no tratamento da dependência à nicotina”, destaca a pesquisadora.

Em relação à experimentação de produtos do tabaco, 39,1% usaram cigarros convencionais, 42,6%, narguilé, e 13,1%, cigarros eletrônicos. Quanto ao uso atual de cigarros convencionais, narguilé e cigarros eletrônicos, as prevalências foram de 7,9%, 11,4% e 2,3%, respectivamente.

A média de idade de experimentação de cigarros e narguilé foi de 16,9 anos, enquanto a de experimentação de cigarros eletrônicos foi de 20,1 anos. Entre os usuários de narguilé, 86,9% relataram compartilhar a piteira com outros usuários.

“O estudo alerta que, como o tabagismo é a primeira causa de morte evitável no mundo, o tema merece mais espaço para discussão e ensino no currículo de graduação dos profissionais de saúde”, recomenda a especialista.

Acesse o artigo na íntegra.

Ouça também o podcast JBP sobre o assunto:

SBPT alerta para os riscos dos cigarros eletrônicos em artigo no jornal O Globo

A SBPT expôs os riscos eminentes à saúde dos cigarros eletrônicos, com base nas melhores evidências científicas disponíveis até o momento, em artigo publicado pelo jornal O Globo em 26/02/2023.

O texto da SBPT “Cigarros eletrônicos fazem muito mal” é uma resposta à publicação “O Dilema do Cigarro Eletrônico”, veiculada em 21/02/2023, na qual o autor sugere que esses dispositivos teriam risco reduzido de danos.

Na argumentação, a Dra. Margareth Dalcolmo, Presidente da SBPT, e o Dr. Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade, enfatizam que a maioria dos artigos científicos publicados apontam perigos graves dos cigarros eletrônicos, como falta de transparência sobre as quase 2 mil substâncias encontradas nesses dispositivos, além do risco de vazamento de metais pesados e adoecimento.

O texto repercutiu positivamente entre pneumologistas e especialistas no assunto. “Artigo incisivo, objetivo, correto, com abundância de comprovações científicas. SBPT vigilante e presente!”, comentou o Dr. José Miguel Chatkin, ex-presidente da SBPT do biênio 2019-2020 e referência no estudo sobre tabagismo no país.

O artigo foi publicado na edição de 26/02/2023 do O Globo. Confira na íntegra:

Cigarros eletrônicos: pesquisa aponta o risco de inalação de metais pesados

O artigo “Transfer of metals in the liquids of electronic cigarettes“, publicado na revista Inhalation Toxicology, concluiu que cinco metais (Fe, Ni, Cu, Zn e Pb) foram transferidos das serpentinas (“coils”) para os e-líquidos (“juices”) de quatro dispositivos eletrônicos para fumar.

Os líquidos foram analisados ​​por espectrometria de fluorescência de raios X de reflexão total para determinar o teor final de metais.

Os cientistas concluíram que a transferência aumentou com o fluxo de ar e a concentração de nicotina.

Além disso, o glicerol contribuiu para a passagem desses metais em comparação com o propilenoglicol e suas misturas. A temperatura de ebulição dos e-líquidos também influenciou na concentração dos tóxicos.

Para informar a população sobre os riscos de inalação dessas substâncias, as Comissões Científicas de Tabagismo das Sociedades Brasileira e Portuguesa de Pneumologia (SBPT e SPP) divulgaram a 3ª série de imagens da campanha contra os dispositivos eletrônicos para fumar.

Baixe e compartilhe as imagens abaixo:

Do que é composta a fumaça dos cigarros eletrônicos? Por que não é apenas “vapor de água”? (imagens)

A Comissão Científica de Tabagismo da SBPT divulgou a segunda parte da série que expõe os principais mitos que se propagam sobre os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).

Nesta edição, os especialistas apresentam as evidências científicas que comprovam que a fumaça dos cigarros eletrônicos não é composta apenas de “vapor de água”.

Baixe e compartilhe as imagens:

Na primeira parte desta série, os pneumologistas explicam por que os cigarros eletrônicos não podem ser utilizados como terapia para parar de fumar. Baixe as imagens aqui.

O projeto tem o apoio da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP).

SBPT e SPP firmam acordo de cooperação para prevenção e controle do tabagismo

Em 02/01/2023, as Comissões de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) iniciaram um projeto de desenvolvimento conjunto de campanhas sobre prevenção do tabagismo.

A ideia é unir esforços para produzir materiais, atividades educativas e divulgação científica entre sociedades irmãs.

O projeto nasceu entre os debates e conversas iniciais, durante a participação da SBPT no 38º Congresso de Pneumologia, que aconteceu em novembro de 2022, em Portugal.

“O Brasil é um exemplo de ouro. É muito bom poder mostrar o lado certo das políticas e a importância de uma sociedade civil mais interventiva e eficaz”, observou a dra. Sofia Ravara, coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP.

“Em breve, divulgaremos um projeto que poderá auxiliar no controle do tabaco na Europa e compartilharemos os materiais”, adiantou a especialista.

As sociedades também estão trabalhando na elucidação dos mitos que envolvem o cigarro eletrônico. Saiba mais:

Pneumologistas apontam falhas graves nos estudos que defendem o cigarro eletrônico como terapia para parar de fumar

Acompanhe as iniciativas pelo site e redes sociais da SBPT e SPP ou, ainda, no Observatório SBPT de Políticas de Controle do Tabagismo Alberto Araújo.

Pneumologistas apontam falhas graves nos estudos que defendem o cigarro eletrônico como terapia para parar de fumar

Segundo os especialistas, as pesquisas que comparam dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs) com outros métodos de cessação do tabagismo têm problemas de metodologia e execução.

Por exemplo, o artigo “Electronic cigarettes for smoking cessation” (Hartmann-Boyce et al., 2021), publicado pela Cochrane Library, grupo que realiza revisões sistemáticas da literatura médica, causou indignação entre profissionais da saúde ao sugerir que “há evidência moderada de que cigarros eletrônicos com nicotina aumentam as chances de parar de fumar, se comparado aos métodos de reposição de nicotina e aos cigarros eletrônicos sem nicotina”.

Na revisão, os autores relatam ter analisado 78 estudos. No entanto, apenas seis pesquisas foram consideradas para chegar a essa conclusão. Uma delas e a que mais contribuiu para a conclusão final da Cochrane é “A Randomized Trial of E-Cigarettes versus Nicotine-Replacement Therapy” (Hajek, 2019), um dos artigos mais acessados no primeiro semestre de 2019 do New England Journal of Medicine (NEJM). O autor, Peter Hajek, inclusive, participou da revisão publicada na Cochrane.

Os pneumologistas membros da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) alertaram para os problemas e vieses do artigo de Hajek. “Os pesquisadores não garantiram que cada grupo aderisse a apenas um dos métodos e houve uso dual. Os gerenciadores de apoio comportamental sabiam em quais grupos os pacientes foram alocados. Além disso, a taxa de abstinência no grupo que utilizou Terapia de Reposição de Nicotina foi de 9,9% em um ano, o que é metade das taxas que normalmente são encontradas”, observou o coordenador da Comissão de Tabagismo da SBPT, Dr. Paulo Corrêa.

De acordo com o especialista, a ciência já comprovou que nenhum tipo de cigarro eletrônico ajuda quem está tentando parar de fumar. Na revisão sistemática e meta-análise E-cigarettes and smoking cessation in real-world and clinical settings: a systematic review and meta-analysis (Kalkhoran e Glantz, 2016), publicada na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, pessoas que tentaram parar de fumar cigarro convencional utilizando cigarros eletrônicos tiveram 28% menos chance de sucesso do que os que não utilizaram esses dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).

Mesmo assim, a indústria do tabaco utiliza a estratégia de apresentar os DEFs como soluções “mais saudáveis” para o tabagismo, buscando maneiras de aliciar os adictos, normalizar o fumo em todos os locais novamente e manter os usuários em um estado chamado de “pré-contemplação”, que acontece quando eles desistem de se preocupar com os danos à saúde e param de pensar em parar de fumar.

“Eu fumava cigarro apenas quando consumia álcool. Comecei a fumar vapes descartáveis para tentar parar, acreditando que eles não tinham as substâncias químicas ruins do cigarro, afinal, não deixam cheiro na roupa, na mão, no ambiente”, relatou a jornalista Marina Paschoalli, de 32 anos. “Em um mês de uso, eu já estava fumando o vape todos os dias. Como não deixa cheiro, eu fumava dentro de casa. Percebi que estava viciada quando comprei um vape sem nicotina e, um dia depois, tive a necessidade de fumar outro com nicotina”, complementou a jovem.

“Os cigarros eletrônicos são cigarros e, portanto, oferecem os mesmos riscos de causar mais de 60 tipos de doenças, respiratórias, cardiovasculares, circulatórias e neoplásicas. Há, ainda, um agravante, que é o fato de não conhecermos quais são as substâncias presentes na fumaça dos DEFs (sim, é fumaça e não vapor) e qual é a quantidade de cada componente, por não haver transparência por parte das fabricantes”, alertou o Dr. Paulo Corrêa.

“Uma pesquisa recente – Characterizing the Chemical Landscape in Commercial E-Cigarette Liquids and Aerosols by Liquid Chromatography-High-Resolution Mass Spectrometry (Tehrani, 2021), publicada na Chemical Research in Toxicology, revelou que há quase 2 mil substâncias nos cigarros eletrônicos (a maioria, desconhecida), incluindo a cafeína, nunca antes apresentada na forma inalada. Sem contar os danos do próprio filamento aquecido dentro desses dispositivos, que libera metais pesados, como o níquel, cancerígeno grau 1 classificado pela International Agency for Research on Cancer (IARC)”, explicou o pneumologista.

Ele chamou a atenção também para os casos de síndrome respiratória aguda grave específica dos cigarros eletrônicos, a EVALI – E-cigarette or vaping use associated lung injury – e para os riscos de explosão, próprios desses aparelhos.

Por fim, o especialista recomendou cautela ao ler e compartilhar informações sobre dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs), já que se trata de um assunto muito recente do ponto de vista científico. “A indústria do tabaco já tentou introduzir ‘cigarros light’, com menor teor de alcatrão e nicotina, como uma solução ‘eficiente e prática’ para ‘parar de fumar fumando’. Mais recentemente, a indústria adotou esse mesmo discurso com outro nome, ‘redução de danos’, se apropriando de um termo que significa outra coisa para lançar mais uma de suas estratégias e auferir lucros. O que eles querem, afinal, é não perder consumidores”, advertiu o Dr. Paulo Corrêa.

O tratamento de cessação de tabagismo é conduzido pelo médico, geralmente pelo pneumologista, com ou sem o concurso de profissionais de saúde mental. São utilizadas técnicas e abordagens comprovadamente eficientes e embasadas pela medicina baseada em evidências, como a abordagem cognitivo-comportamental, entrevista motivacional, os medicamentos de primeira linha (como a terapia de reposição da nicotina –TRN – e o bupropiona), técnicas de manejo de fissura e de prevenção de recaída. A combinação das técnicas e o tempo de tratamento serão definidos pelo médico conforme o perfil de cada paciente.

Baixe e compartilhe um resumo do assunto em imagens.

29 de agosto: Dia Nacional de Combate ao Fumo

Todos os anos, em agosto, instituições brasileiras de saúde e educação se dedicam a transmitir informações para ajudar o fumante a interromper a dependência de nicotina e buscar mais qualidade de vida.

Na campanha de 2022, a SBPT alerta para a nova estratégia da indústria do tabaco para aliciar mais fumantes: os Dispositivos Eletrônicos Para Fumar (DEF).

Evidências científicas recentes apontam que os aerossóis produzidos pelos cigarros eletrônicos contêm quase 2 mil substâncias ainda desconhecidas e não divulgadas pelas fabricantes, incluindo produtos químicos industriais e cafeína (Chem Res. Toxicol. 2021).

A maioria dos estudos sobre os DEF investiga as exposições de cigarros eletrônicos a partir de substâncias já detectadas nos cigarros combustíveis, como alcaloides do tabaco, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e formaldeído.

O diferencial deste estudo é que o grupo utilizou uma técnica avançada de impressão digital química (fingerprinting) aliada à cromatografia líquida – espectrometria de massa de alta resolução (LC-HRMS).

Especificamente, os produtos analisados foram: um dispositivo de terceira geração com energia modificável “mod” (Smok ProColor 225W), dois dispositivos de cartucho “pod” de quarta geração (Juul e Vuse Alto) e um “pod” descartável de quarta geração (Blu).

A cafeína foi detectada em amostras de dois dos quatro produtos comerciais de e-cig analisados: Vuse e Mi-Salt (Smok) e-líquidos e/ou aerossóis. O estimulante já havia sido detectado nos e-líquidos com sabor de café, chá, chocolate e bebidas energéticas, alguns em níveis de até 104 μg/g, mas a existência em produtos com sabor de tabaco, como demonstrado pelo estudo, foi inusitada.

Os pesquisadores também identificaram citrato trietílico, usado como emulsificante de e-líquido, em altas concentrações, acima do máximo quantificável (400 μg/g), em amostras de Juul e-liquid e aerossol, além de três produtos químicos industriais e um pesticida.

Assista no YouTube: “Cigarros eletrônicos e produtos de tabaco: poluindo o meio ambiente interno e externo, realizado em 31/05/2022.

Nesta campanha de 2022, a SBPT alerta que o cigarro eletrônico não é indicado para tratamento do tabagismo. Além disso, recomendamos aos profissionais da saúde que encaminhem pacientes tabagistas para o tratamento com especialistas.

Nas imagens que seguem, veja informações sobre alguns dos riscos de consumo de todas as formas de cigarro. Baixe e compartilhe:

Referências sobre a composição dos cigarros eletrônicos

Cheng, T. Chemical Evaluation of Electronic Cigarettes. Tob. Control 2014, 23, ii11−ii17.

Lisko, J. G.; Lee, G. E.; Kimbrell, J. B.; Rybak, M. E.; Valentin-Blasini, L.; Watson, C. H. Caffeine Concentrations in Coffee, Tea, Chocolate, and Energy Drink Flavored E-Liquids. Nicotine Tob. Res. 2017, 19, 484– 492, DOI: 10.1093/ntr/ntw192.

National Academies of Sciences Engineering and Medicine. In Public Health. Consequences of E-Cigarettes; Stratton, K.; Kwan, L. Y.; Eaton, D. L., Eds.; The National Academies Press: Washington, DC, 2018.

Salamanca, J. C.; Meehan-Atrash, J.; Vreeke, S.; Escobedo, J. O.; Peyton, D. H.; Strongin, R. M. E-Cigarettes Can Emit Formaldehyde at High Levels under Conditions That Have Been Reported to Be Non-Averse to Users. Sci. Rep. 2018, 8, No. 7559.

Salin, A. V.; Il’in, A. V.; Faskhutdinov, R. I.; Galkin, V. I.; Islamov, D. R.; Kataeva, O. N. Tributylphosphine Catalyzed Addition of Diphenylphosphine Oxide to Unsubstituted and Substituted Electron-Deficient Alkenes. Tetrahedron Lett. 2018, 59, 1630– 1634,  DOI: 10.1016/j.tetlet.2018.03.040.

Takeshita, A.; Igarashi-migitaka, J.; Nishiyama, K.; Takahashi, H.; Takeuchi, Y.; Koibuchi, N. Acetyl Tributyl Citrate, the Most Widely Used Phthalate Substitute Plasticizer, Induces Cytochrome P450 3A through Steroid and Xenobiotic Receptor. Toxicol. Sci. 2011, 123, 460– 470,  DOI: 10.1093/toxsci/kfr178.

Comissão de Tabagismo da SBPT participa do XV Seminário de Alianças Estratégicas Para Promoção da Saúde da ACT

A Aliança de Controle do Tabagismo (ACT Promoção da Saúde) realizou seu 15º seminário de 15 a 17/08/2022.

O Dr. Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da SBPT, participou do painel sobre Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), coordenado por Sabrina Presman, da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Outras Drogas.

O painel contou com sete palestrantes, entre representantes da ACT, Instituto do Coração (InCor), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Universidade da Califórnia, Universidade Johns Hopkins, Receita Federal do Brasil e outras instituições.

O Dr. Paulo Corrêa falou a respeito dos mitos que se propagou sobre o cigarro eletrônico, ressaltando os seguintes pontos:

    • Cigarro eletrônico não é “95% menos danoso”, como propalaram nas pesquisas financiadas pela indústria;
    • Os DEFs não são “apenas vapor de água” e sim um aerossol com quase 2 mil substâncias químicas, segundo evidências mais recentes;
    • Cigarro eletrônico é cigarro, portanto, fumar é o mesmo que vaporizar;
    • Não fumantes que usam DEFs têm probabilidade 3x maior de se tornarem fumantes regulares de cigarros convencionais;
    • Cigarro eletrônico NÃO é tratamento de cessação;
  • Os DEFs também produzem second-hand e third-hand smoke (fumo passivo e resíduos da fumaça no ambiente).
Dr. Paulo Corrêa no XV Seminário da ACT Promoção da Saúde, em 15/08/2022.
Dra. Ana Carla Sousa de Araújo, da Comissão de Tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), e Dr. Paulo Corrêa.

Comissão de Tabagismo contesta editorial da Folha de S. Paulo sobre cigarros eletrônicos

O editorial “Fumaça Proibicionista”, publicado na edição de 08/07/2022 da Folha de S. Paulo, defende a ideia de que a “solução racional” seria regulamentar o uso adulto do cigarro eletrônico, se posicionando contra a decisão da Anvisa de manter a proibição desses dispositivos (RDC nº 46/2009).

Por isso, a SBPT escreveu ao ombudsman, Sr. José Henrique Mariante, e à seção de “Tendências/Debates” do jornal solicitando direito de resposta, conforme a carta que segue abaixo.

Acreditamos que o debate sobre o cigarro eletrônico é mais complexo do que os argumentos apresentados. Gostaríamos de lembrar que esses produtos são um novo mercado da indústria do tabaco, a mesma que causa 12% das mortes no mundo por ano, principalmente por doenças respiratórias, circulatórias, cardiovasculares e neoplásicas, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde. Essas indústrias bilionárias introduzem novos produtos no mercado e investem em marketing para o público jovem, com o objetivo de aliciar adictos em nicotina.

Sobre a adicção, desencorajamos o uso do termo “hábito de fumar” para se referir a uma das mais desafiadoras dependências químicas que existem. O termo correto seria “adicto” ou “dependente” de nicotina e outras substâncias dos cigarros eletrônicos e convencionais, o que leva à síndrome de abstinência e desejo de consumir mais o produto.

O texto mencionou o “alto custo social” do proibicionismo, sem levar em conta as profundas raízes de injustiça social da indústria do tabaco, que concentra a produção em países pobres, utiliza mão de obra infantil, coloca em risco a saúde do trabalhador, perpetua a vulnerabilidade e a dependência econômica dos produtores, polui e diminui a área agriculturável para alimentos.

Outro ponto é que as fabricantes não são transparentes com relação à composição de substâncias utilizadas nos dispositivos eletrônicos para fumar. Diferentemente do que aponta o texto, há evidências de que os cigarros eletrônicos contêm cerca de 2 mil componentes químicos, sendo a maioria ainda desconhecida por quem os consome. (Chem Res. Toxicol. 2021).

O autor sugere que a liberação seria para adultos e afirma que “não cabe ao Estado determinar o que indivíduos autônomos decidem sobre o próprio corpo”. No entanto, devemos lembrar quem são as principais vítimas desse consumo. No Brasil, entre escolares de 13 a 17 anos, em média, 16,8% já experimentou cigarro eletrônico (PeNSe, 2019). Na região Centro-Oeste, esse percentual chegou a 23,7%.

Além disso, o Brasil é signatário da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT/OMS) e se compromete a “agir para proteger essas políticas dos interesses comerciais ou outros interesses garantidos para a indústria do tabaco, em conformidade com a legislação nacional”.

Portanto, é dever do Estado, sim, proteger as pessoas da exposição a aditivos tóxicos e cancerígenos e informar devidamente a população sobre os riscos desses produtos.

Como profissionais da saúde, cuidamos de doenças graves causadas pelo tabagismo. Só no campo da Pneumologia, há a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); o câncer de pulmão; a EVALI (síndrome respiratória aguda causada pelo uso de cigarro eletrônico); além de exacerbações (crises) de asma; exposição ao tabagismo passivo; problemas trombogênicos que levam à embolia pulmonar e muitas outras doenças.

Fica a reflexão, “liberar é melhor para quem?”. Nem mesmo para o Estado é vantajoso. O cigarro convencional, por exemplo, arrecada pouco mais de R$ 12 bilhões de impostos, mas gera R$ 125 bilhões em perdas diretas e indiretas para a saúde.

Por isso, solicitamos à Folha de S. Paulo que nos dê esse direito de resposta.

Cordialmente,

Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo SBPT.
Ana Helena Ribas, assessora de Comunicação da SBPT.

Mais referências

SBPT, AMB, CFM e Sociedades Médicas alertam sobre as consequências do uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs).

Posicionamento da SBPT sobre os Dispositivos Eletrônicos Para Fumar (DEFs).