Na terça-feira (13/05), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) participou do Ato Solene em alusão ao Dia Mundial da Asma, realizado no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). Proposto pelo deputado federal Dr. Zacharias Calil, o evento buscou ampliar a visibilidade dos desafios enfrentados por pacientes e profissionais da área, com ênfase nos casos graves da doença.
Na ocasião, o presidente da SBPT, Dr. Ricardo de Amorim Corrêa, destacou em sua apresentação as necessidades ainda não atendidas da asma grave na saúde pública brasileira. “A asma ainda é subdiagnosticada e subtratada no Brasil. Apesar dos avanços, muitos pacientes continuam enfrentando crises recorrentes e hospitalizações por falta de acesso adequado ao tratamento”, afirmou.
Corrêa também destacou a importância de fortalecer a atenção primária e a gestão municipal para reduzir internações desnecessárias, ampliar o acesso a medicamentos adequados e humanizar o atendimento. “Pacientes enfrentam longas jornadas para conseguir medicamentos simples. Propomos que a combinação de corticosteroide inalatório e broncodilatador de longa ação seja o tratamento base, desde os estágios iniciais, como recomendado pelas evidências internacionais. Essa abordagem reduz exacerbações e melhora o controle da doença”, sugeriu.
E chamou atenção para o uso indiscriminado de corticosteroides orais no país. “Apesar da exigência legal de prescrição, muitos pacientes ainda conseguem comprar corticosteroides sem receita, o que representa um risco grave à saúde pública. O uso inadequado pode causar perda de massa muscular, osteoporose, hipertensão e até infarto. É fundamental resgatar o rigor na exigência da receita médica para evitar essas complicações”, advertiu.
O presidente da SBPT apontou ainda a necessidade de revisar os formatos de apresentação dos medicamentos disponíveis no SUS, que muitas vezes não atendem à complexidade dos casos enfrentados na rede pública. Também falou sobre o acesso aos imunobiológicos, indicados para casos graves de asma. “Os protocolos estão bem estabelecidos no PCDT, mas a chegada desses medicamentos aos pacientes precisa ser agilizada. Eles representam uma alternativa eficaz para quem não responde aos tratamentos convencionais”, explicou.
Encerrando sua participação, Ricardo Corrêa alertou que a burocracia ainda dificulta a oferta de medicamentos já incorporados ao SUS e reforçou que o controle da asma exige políticas públicas eficazes, investimento na capacitação de profissionais e uma articulação integrada entre os diferentes níveis de governo. “Precisamos de uma resposta coordenada entre governo federal, estados e municípios, com escuta ativa aos pacientes e uso inteligente dos recursos. O compromisso com a saúde pública inclui não apenas garantir tratamento, mas também dignidade para quem vive com essa condição”, concluiu.
Em consonância com o exposto acima, o Dr. Emilio Pizzichini, coordenador da Comissão de Asma da SBPT, compartilhou sua experiência pessoal como paciente asmático desde a infância e chamou atenção para a necessidade de acesso a tratamentos modernos e contínuos.
“Eu nasci com asma. Meu irmão, minha irmã, meu filho, meu sobrinho — todos têm asma. A diferença é que tive diagnóstico precoce. A asma sumiu na infância, como acontece em alguns meninos, mas voltou aos 61 anos. Eu mesmo fiz o diagnóstico no meu consultório, com espirometria. Desde então, comecei o tratamento com a combinação adequada de corticoide inalatório e broncodilatador de longa ação. Estou há cinco anos sem uma única crise.”, relatou.
Segundo Pizzichini, a maioria das pessoas com asma tem a forma leve da doença, que pode ser bem controlada com a combinação terapêutica correta. No entanto, muitos pacientes seguem utilizando apenas corticoides isolados, o que gera riscos e maior morbidade. “O Ministério da Saúde fez algo importante há anos ao introduzir o corticoide inalatório, o que reduziu as hospitalizações por asma em 67%. Mas ainda falta oferecer a combinação que eu uso, disponível com uma dose diária. Assim, evitaríamos internações e melhoraríamos a qualidade de vida dos pacientes”, reiterou.
Ele também criticou a necessidade de consultas frequentes apenas para renovar receitas, defendendo um modelo mais racional como o praticado no Canadá, cuja receita é renovada anualmente.
Além dos representantes da SBPT, o evento reuniu parlamentares, profissionais da saúde, representantes da sociedade civil e associações de pacientes. Durante as falas, ficou evidente o consenso sobre a urgência de medidas estruturantes para garantir acesso a tratamentos eficazes e ampliar a resolutividade da atenção básica.
O Dr. Herberto Schong, representando a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, foi enfático ao afirmar que o tratamento ideal pode ser simples e acessível — desde que devidamente pactuado e financiado pelos entes públicos. “Com uma associação terapêutica de baixo custo, conseguimos controlar a maioria dos casos. Mas é fundamental garantir que esses medicamentos estejam disponíveis na atenção básica e que o financiamento esteja pactuado com os estados. Só assim teremos uma política de saúde pública eficaz”, ressaltou.
Já o Dr. José Roberto Negra, presidente da Associação Brasileira de Asmáticos, reiterou a complexidade do caminho percorrido pelos pacientes para obter medicamentos básicos, como bombinhas e inaladores. Segundo ele, o excesso de burocracia e a ausência de protocolos unificados agravam o sofrimento dos usuários do sistema público de saúde. “Estamos falando de medicamentos simples, seguros e eficazes que poderiam ser entregues diretamente na atenção primária. A jornada do paciente, hoje, é marcada por filas, renovações constantes de receita e perda de acesso por detalhes administrativos. Isso é inaceitável”, alertou Negra.
Uma jornada que Raissa Cipriano, mãe de uma criança com asma grave e diretora da Associação Brasileira de Asma Grave (ASBAG), conhece bem. Em depoimento emocionado, ela relatou o longo caminho até o diagnóstico e controle da doença da filha, marcado por 32 internações — muitas em UTI — e o uso prolongado de antibióticos e corticoides antes do diagnóstico correto.
“Mais do que dados, eu queria que vocês entendessem que existem muitas ‘Joanas’. Minha filha levou mais de três anos para ser diagnosticada e mais dois para alcançar o controle da doença. Precisamos de protocolos que reconheçam o bebê ‘chiador’ e evitem esse sofrimento. A informação salva vidas”, declarou.
Ela ainda reforçou que a negligência no manejo da asma grave traz impactos profundos não apenas à saúde da criança, mas também à dinâmica familiar e à estrutura do SUS. Para Raissa, o despreparo para reconhecer os sinais precoces, inclusive entre pediatras, contribui para o agravamento da doença.
Embora o deputado federal Dr. Zacharias Calil, idealizador do Ato Solene, não tenha comparecido ao evento, sua iniciativa foi reconhecida por todos os participantes como um passo essencial para colocar a asma grave na agenda política. As contribuições reunidas durante a cerimônia reforçam o potencial de articulação entre sociedade civil, especialistas e o Congresso Nacional na construção de políticas públicas mais eficazes.