Tendo em vista a pandemia da COVID-19, que assolou o mundo recentemente, a atual veiculação de notícias a respeito de um novo surto de uma infecção respiratória causada por um vírus na China tem causado muita apreensão entre as pessoas e acendido um alerta das instituições de saúde nacionais e internacionais. Diante desse cenário, o presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Dr. Ricardo de Amorim Corrêa explica em detalhes quais os riscos globais do metapneumovirus humano na China.
Afinal, que vírus é esse? É um novo vírus?
Bem, o vírus em questão é o metapneumovírus humano (HMPV). Trata-se de um velho conhecido, citado em muitos registros de vigilância de infecções respiratórias. O HMPV é um vírus da mesma família do vírus sincicial respiratório, o VSR, sendo comum circular em vários países durante as estações do inverno e primavera. A maioria das pessoas infectadas pelo HMPV apresenta sintomas respiratórios leves, como tosse, febre, congestão nasal e, às vezes, falta de ar. Os casos graves podem progredir para bronquite aguda, simulando ou exacerbando a asma, ou pneumonia. A infecção natural não gera imunidade perene, de modo que, como a gripe pelo vírus Influenza, uma pessoa pode ser infectada várias vezes ao longo de sua vida. Como outras infecções virais do aparelho respiratório, o período de incubação é de três a seis dias, e a duração da doença é variável, dependendo da sua gravidade e da imunidade da pessoa acometida, mas a recuperação geralmente é rápida, dentro de poucos dias. O fato de o HMPV não ser um vírus novo e sua circulação ambiental frequente gera uma imunidade coletiva e proteção contra ocorrência de um número grande de casos graves.
Como é a transmissão do HMPV?
O HMPV é altamente transmissível e isso se dá através da liberação de secreções respiratórias, como tosse e espirros, além do contato pessoal ou toque de uma pessoa infectada. Da mesma forma que o vírus Influenza da gripe comum, o contato com objetos ou superfícies contaminadas pode transmitir o vírus. O HMPV, portanto, existe há décadas e quase todas as crianças são infectadas até os cinco anos de idade.
Em qual escala está essa epidemia na China?
Segundo dados disponibilizados pela autoridades da China, de fato, desde dezembro de 2024 está havendo um aumento do número de casos de infecções respiratórias agudas, principalmente nas províncias do norte, causadas por vírus Influenza sazonal, rinovírus, VSR e pelo HMPV. Entretanto, a informação é de que o aumento observado nas detecções desses vírus está dentro do esperado para essa época do ano no inverno do hemisfério norte. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o sistema de saúde chinês não está sobrecarregado. Portanto, trata-se de epidemias sazonais do HMPV e de outros vírus, e até do vírus da COVID-19 que estão ocorrendo no norte da China e em outros países do hemisfério norte.
Quais são as pessoas sob maior risco de complicações das infecções respiratórias por esse vírus?
O HMPV causa sintomas mais graves em pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos, particularmente em populações vulneráveis, como bebês, crianças pequenas, adultos mais velhos e indivíduos com condições de saúde subjacentes, como diabetes, obesidade, doenças imunológicas, câncer, podendo causar doença grave que requer hospitalização. Portanto, pessoas com problemas de saúde subjacentes devem ter cuidado com a infecção pelo HMPV.
Como é feito o diagnóstico?
Não é possível diferenciar a infecção causada pelo HMPV baseando-se nos sintomas, pois são muito semelhantes a aqueles decorrentes de doença pelos outros vírus respiratórios. O diagnóstico pode ser feito através da coleta de secreções respiratórias ou pelo Swab nasal ou de nasofaringe para identificação pela técnica da RT-PCR.
E o tratamento?
Atualmente, não existe uma vacina ou terapia antiviral específica para o HMPV. Assim, o tratamento é controlar os sintomas e o acompanhamento médico poderá identificar a casos graves que eventualmente necessitem de hospitalização.
Como prevenir a infecção pelo vírus?
Segundo recomendação da OMS, devem ser adotadas medidas simples para controlar a transmissão do HMPV. Nesse sentido, a pandemia da COVID-19 muito nos ensinou como nos prevenir de infecções respiratórias no geral, reduzindo o risco de contaminação pelo HMPV:
- Higienizar as mãos regularmente com água e sabão ou álcool em gel.
- Evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos sujas.
- Manter o calendário vacinal atualizado, com destaque para vacinas contra pneumonia, meningite, COVID-19 e Influenza.
- Adotar hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada e hidratação adequada.
- Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, utilizando lenço descartável ou cotovelo dobrado.
- Permanecer em casa ao apresentar sintomas e usar máscaras em locais lotados ou mal ventilados.
Do ponto de vista da saúde pública, o Ministério da Saúde, junto com as secretarias estaduais de saúde, adotou medidas de monitoramento contínuo, mesmo sem o risco de um surto da doença ou de uma pandemia.