O 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão, realizado nos dias 14 e 15 de agosto, em Brasília, trouxe à tona debates e avanços significativos na luta contra o câncer de pulmão, com a participação destacada da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Organizado pela Aliança contra o Câncer de Pulmão, o evento reuniu especialistas, parlamentares, representantes de sociedades médicas e órgãos governamentais, abordando temas fundamentais para o avanço do diagnóstico, tratamento e prevenção da doença.
O congresso teve início com uma breve palavra dos presidentes da Aliança Contra o Câncer de Pulmão, incluindo Margareth Dalcolmo (SBPT), Carlos Gil (SBOC), Ronaldo Baroni (CBR), Clovis Klock (SBP), Francisco Neto (SBCT) e Alisson Borges (SBRT), que destacaram a importância do evento para o avanço das políticas de combate ao câncer de pulmão no Brasil.
Na ocasião, Margareth Dalcolmo lembrou que o principal objetivo do congresso não é apenas discutir novas terapias ou sofisticar procedimentos, mas tornar acessíveis as linhas de cuidados e o diagnóstico precoce. “Estamos diante de um desafio comum que ainda não conseguimos superar completamente. Às vezes, o que parece ser uma dificuldade é, na verdade, uma oportunidade de mostrar que, juntos, podemos fazer a diferença. E nós estamos comprometidos em diagnosticar precocemente e encaminhar os casos para tratamento adequado, garantindo que os cirurgiões e oncologistas possam agir de forma eficaz. Nosso objetivo é claro e alcançável”, destacou a presidente da SBPT.
No painel “O câncer de pulmão no Brasil e seus entraves”, o coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da SBPT, Dr. Gustavo Prado compartilhou o atual cenário da doença no Brasil, seguido de discussões com Helena Esteves e Ricardo Sales que abordaram a importância do rastreamento e as iniciativas da PróPulmão & Oncoguia.
“As questões aqui abordadas reforçam a necessidade de discutirmos a prevenção, principalmente contra o tabagismo, o principal fator de risco no Brasil. Apesar de uma política rigorosa de controle, enfrentamos ameaças crescentes, especialmente de dispositivos eletrônicos, sem nenhuma estratégia comprovada de redução de danos. As afirmações da indústria em favor dos cigarros eletrônicos visam apenas o lucro, e o argumento de arrecadação tributária não se sustenta quando comparado aos custos diretos com o tabagismo”, enfatizou Gustavo Prado.
O médico também apontou a necessidade de se investir em prevenção e diagnóstico precoce para reduzir a mortalidade em pelo menos 20%. “A Lei dos 60 dias deve ser uma meta permanente. O rastreamento deve ser contínuo e organizado, evitando redundância e fragmentação, com o município identificando casos e a esfera estadual prestando atenção especializada, financiada pelo governo federal”, defendeu.
Oportunamente, a deputada Flávia Moraes (PDT-GO), presente no congresso, relatou os desafios da implementação da Lei dos 60 Dias, que é de sua autoria. “Infelizmente, apesar dos 10 anos da aprovação da Lei dos 60 Dias, a implementação ainda está abaixo do ideal. Há grandes disparidades no enfrentamento do câncer no Brasil, com algumas regiões bem equipadas e outras com enormes vazios assistenciais, o que representa um desafio enorme em termos de equidade no atendimento”, contou.
Apesar disso, a parlamentar segue firme e atuante no Congresso Nacional. “Tenho acompanhado de perto a regulamentação da política nacional do câncer na Comissão. O Brasil é um exemplo no combate ao tabagismo e precisamos manter nossas conquistas. Por isso, é tão importante estabelecer políticas eficazes, reforçar leis existentes e conscientizar a população tanto sobre os perigos do cigarro eletrônico quanto a importância de um diagnóstico precoce para o câncer de pulmão”, concluiu.
A programação seguiu com a palestra “O tabaco no Brasil: onde estamos e para onde vamos” do coordenador da Comissão de DPOC da SBPT, Dr. Luiz Fernando Ferreira Pereira, que discutiu os avanços na política antifumo e as preocupações relacionadas aos cigarros eletrônicos.
“Onde estamos? Somos um dos países com a maior queda de tabagismo do mundo, menos de 10% da população segue fumando. Somos exemplos de políticas e ações contra o fumo. Para onde caminhamos? Talvez um país livre de tabaco, mas temos um risco de epidemia de uso de cigarros eletrônicos. Para isso, é importante entender a relação entre tabagismo, rastreamento e câncer de pulmão. Não fumar ou interromper o uso do tabaco reduz significativamente o risco de mortalidade por essa doença. Portanto, cessar tabagismo e rastrear a doença devem estar juntos para sempre”, argumentou Luiz Fernando Ferreira.
Em seguida, foi realizada uma roda de discussão com a participação do Dr. Gustavo Prado; da chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Maria Jose Giongo; da diretora financeira da SBPT, Dra. Maria Enedina Scuarcialupi; do diretor de defesa profissional da SBPT, Dr. Octavio Messeder; e do coordenador da Câmara Técnica de Pneumologia e Cirurgia Torácica do CFM, Dr. Alcindo Cerci para a proposição de ações concretas.
Na ocasião, Octavio Messeder discutiu a complexidade do câncer de pulmão e a importância de estratégias eficazes para sua prevenção e diagnóstico. “Para reduzir a mortalidade por câncer de pulmão, que é alarmante em nível global, precisamos fortalecer todas as parcerias que podem contribuir para essa causa. A legislação desempenha um papel importante, mas é preciso que trabalhemos juntos para garantir que as políticas públicas propostas sejam eficazes e coerentes”, defendeu o pneumologista.
Para isso, o especialista propôs uma abordagem integrada que envolva educação, diagnóstico precoce e tratamento, além de um esforço conjunto para reduzir a mortalidade por câncer de pulmão, destacando a importância de alianças entre profissionais de saúde, legisladores e a sociedade civil para alcançar esses objetivos. “Devemos transformar esse processo em algo conhecido e discutido amplamente. É necessário que a sociedade se envolva e se conscientize sobre os riscos associados ao câncer de pulmão e outras doenças respiratórias. Precisamos de alianças em todos os níveis — locais, nacionais e globais — e de lideranças que possam direcionar nossos esforços”, esmiuçou.
Em conformidade com o exposto, Maria Enedina Scuarcialupi reiterou a importância de uma ação integrada, com destaque à educação contínua de profissionais de saúde e conscientização de todos os atores envolvidos, para garantir que as diretrizes e práticas médicas sejam implementadas. “Cabe a nós, médicos, mantermos a educação continuada e o diálogo com os legisladores para que nossas ações tenham impacto real na saúde pública. Precisamos garantir que, na prática, o paciente seja devidamente atendido e informado, especialmente na atenção primária, onde por vezes o tabagismo não é sequer abordado”, refletiu.
Para fechar o painel de discussões, Gustavo Prado lembrou que radônio, poluição e doenças ocupacionais são questões pouco discutidas, que carecem de atenção e ampla discussão. “O câncer ocupacional, por exemplo, representa 10% dos casos de câncer no mundo. Então, além de monitorar o lobby da indústria do tabaco, que ainda exerce influência no Brasil, e garantir a continuidade do banimento do fumo, é preciso vigiar a exposição a outros carcinógenos. Para isso, devemos identificar pontos focais para abordar as lacunas que ainda existem em áreas como acesso à educação, produção de fármacos, monitoramento ambiental, regulação de limites de exposição e emissões, e, claro, saúde ocupacional, que ainda é uma área carente de atenção no Brasil”, concluiu.
No segundo dia do evento, o presidente eleito da SBPT (Biênio 2025-2026), Dr. Ricardo Amorim Corrêa, participou de mesa de discussão sobre linhas de cuidado, com foco na implementação de inovações na rede pública de saúde, na qual enfatizou a necessidade de se trabalhar junto aos órgãos públicos competentes, para assegurar o orçamento necessário para a implementação dessas ações.
“Existem leis que precisam ser regulamentadas, e uma avaliação de custos é fundamental para isso. Esse é o nosso compromisso: sair deste congresso com um plano concreto para garantir que a linha de cuidado do câncer de pulmão esteja plenamente disponível na rede SUS”, arrematou Corrêa Amorim.
A partir do debate, a Diretora de Assuntos Científicos da SBPT, Dra. Valéria Maria Augusto, em colaboração com os especialistas Dr. Pedro de Marchi e Wolfgang Aguiar conduziram o painel final para consolidação de uma proposta de ação da Aliança contra o Câncer de Pulmão, no qual ainda foram discutidas a criação de centros de referência regionais de diagnóstico e a incorporação de Inteligência Artificial na patologia.
O 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão foi um marco para a comunidade médica, promovendo um diálogo produtivo sobre os desafios e avanços na prevenção e diagnóstico precoce da doença. A diversidade de temas abordados e a qualidade das apresentações contribuíram significativamente para o avanço no entendimento da Aliança, estabelecendo um importante ponto de partida para futuras ações, inovações e colaborações.