Os artigos selecionados para resumo em 24/04 tratam do dano alveolar difuso encontrado na necrópsia de pacientes com COVID-19, a patobiologia das três fases distintas do SARS-CoV-2 e sobre a possibilidade de acometimento do sistema nervoso central (SNC) pelo novo coronavírus.
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Pathological study of the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19) through postmortem core biopsies
Resumo
Os autores conduziram o presente estudo no Hospital Zhongnan da Universidade de Wuhan, China. Conforme salientado por este grupo de pesquisadores, há escassez de estudos envolvendo necropsias de pacientes falecidos por COVID-19. Por isso, foram realizadas core biópsias post mortem de fígado, pulmões e coração em 4 pacientes com diagnóstico de COVID 19 que tiveram desfechos fatais. As principais observações foram:
- Os 4 pacientes falecidos (idades entre 59 e 81 anos) eram portadores de comorbidades, sendo que cada um apresentava ao menos uma das seguintes condições: leucemia linfocítica crônica (LLC), rim transplantado, cirrose, hipertensão e diabetes.
- Todos os pacientes apresentavam pneumonia bilateral caracterizadas tomograficamente por infiltrados em vidro fosco. Nas avaliações por imagens próximas aos óbitos consolidações passaram a ser visualizadas.
- As imagens em vidro fosco na tomografia de tórax representam a fase exsudativa inicial da pneumonia pela COVID-19.
- Aspecto comum a todos os pacientes foram as manifestações de dano alveolar difuso. Alterações relacionadas a este diagnóstico histopatológico se basearam no encontro de membrana hialina, exsudatos com fibrina, lesão epitelial e hiperplasia de pneumócitos tipo II. No caso com danos mais avançados detectou-se hemorragia alveolar, necrose fibrinóide em pequenos vasos, além de sinais inflamatórios sugestivos de broncopneumonia bacteriana associada.
- A pesquisa de coronavírus por RT-PCR foi positiva em alguns pacientes no coração, fígado e pulmão, não obrigatoriamente encontrada de forma simultânea.
- Core biópsia do coração foi obtida somente em dois pacientes, tendo sido encontrada discreta fibrose focal e leve hipertrofia miocárdica, achados possivelmente ocasionados pelas doenças de base.
- O fígado apresentou dilatação sinusoidal leve, achado inespecífico em pacientes gravemente enfermos nos estados terminais. Demais alterações foram atribuídas às doenças prévias de cada caso.
Os autores concluíram que o achado pulmonar principal é dano alveolar difuso, sem fibrose pulmonar nos casos analisados. E que novos estudos com maior número de pacientes são necessários para o alcance de entendimento mais amplo sobre a patogênese da COVID-19.
Referência:
- TIAN, S. Pathological study of the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19) through postmortem core biopsies. Modern Pathology Apr 14, 2020 Mar 30. org/10.1038/s41379-020-0536-x.
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PATHOGENESIS OF COVID-19 FROM A PATHOBIOLOGIC PERSPECTIVE.
Resumo
O artigo publicado na ERJ em abril de 2020 descreve a patobiologia das 3 distintas fases do SARS-CoV-2, como veremos a seguir:
Fase 1: Assintomática (1-2 dias iniciais)
- O vírus SARS-CoV-2 aparentemente se liga às células epiteliais da cavidade nasal e inicia sua replicação através da ligação ao receptor ACE2.
- Há propagação viral local, porém a resposta imune inata é limitada.
- Pode ser detectado pelo Swab nasal.
- Carga viral baixa, porém são pacientes infectantes.
Fase 2: Resposta das vias aéreas superiores e vias aéreas condutoras (próximos dias subsequentes)
- O vírus migra para as vias aéreas condutoras e começa a resposta imune inata mais robusta.
- Detecção por Swab nasal, escarro e marcadores da resposta inata.
- A doença já é clinicamente manifesta.
- 80% dos indivíduos contaminados manifestarão a forma leve da doença, e poderão ser tratados em casa, com sintomáticos.
Fase 3: Hipóxia, opacidades tipo vidro fosco e progressão para Síndrome de Angústia Respiratória Aguda (SARA).
- 20% dos indivíduos terão infiltrado pulmonar e progredirão para esta fase.
- Aproximadamente 2-5% terão doença muito grave.
- O vírus agora chega às unidades de troca gasosa, infectando e destruindo os Pneumócitos tipo II, geralmente nas áreas periféricas e subpleurais.
- O resultado é Dano Alveolar Difuso (DAD), com formação de membrana hialina rica em fibrina levando a um ciclo de dano/reparo aberrante podendo culminar em fibrose mais rapidamente que outras formas de SARA.
- A recuperação exigirá vigorosa resposta imune inata e adquirida e regeneração epitelial.
Referência:
- MASON, R.J. et. al. PATHOGENESIS O COVID-19 FROM A PATHOBIOLOGIC PERSPECTIVE. Eur Respir J 2020; in press. doi.org/10.1183/13993003.00607-2020
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Resumo
Os autores desse artigo de revisão alertam para a possibilidade de acometimento do sistema nervoso central (SNC) pelo SARS-CoV-2, fundamentada nas manifestações clínicas compatíveis e analogia com estudos prévios com o SARS-CoV e MERS-CoV. Seguem as principais considerações:
- Análise genômica mostra que o SARS-CoV-2 tem a ancestralidade dos ßcoronavirus (assim como MERS-CoV e SARS-CoV) e compartilha sequência altamente homóloga com a SARS-CoV.
- Pacientes com COVID-19 podem apresentar manifestações clínicas compatíveis com envolvimento neurológico, como cefaleia, náuseas, vômitos e rebaixamento do nível de consciência.
- Estudos anteriores com SARS-CoV e MERS-CoV mostraram acometimento do cérebro e tronco cerebral.
- Alguns coronavírus têm capacidade de disseminação neuronal, via conexões sinápticas, para o centro cardiorespiratório medular, advindos de mecanoreceptores e quimiorreceptores dos pulmões e vias aéreas periféricas. Esta manifestação pode danificar o centro respiratório medular e comprometer o controle ventilatório.
- Considerando-se a similaridade entre SARS-Cov e SARS-CoV-2, alerta-se para o acometimento do SNC no COVID-19 que pode, decorrente da disfunção do controle ventilatório neuronal, tornar mais desfavorável a evolução da insuficiência respiratória.
- Estima-se ser de 8 dias a mediana de latência entre o início dos sintomas da COVID-19 e o desenvolvimento da insuficiência respiratória com indicação de UTI. Esse período seria suficiente para a invasão do SNC.
- Observações recentes relatam doença cerebrovascular e deterioração do nível de consciência, em pacientes com formas graves da COVID-19.
Referência:
- YAN‐CHAO, LI. Et al. The neuroinvasive potential of SARS‐CoV-2 may play a role in the respiratory failure of COVID‐19 patients. J Med Virol. 2020;1–4. https://doi.org/10.1002/jmv.25728, Accepted: 24 February 2020 DOI: 10.1002/jmv.25728.
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