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Neste Dia Mundial de Combate ao Câncer, que tal repensarmos as palavras?

Hoje, mais do que um dia de luta, deveria ser um dia de escuta.

Por décadas, o câncer tem sido globalmente tratado como uma guerra. Se, antes, a inominável doença era considerada uma sentença de morte, hoje, pacientes são chamados de guerreiros enquanto todo o processo é descrito como uma sequência de batalhas perdidas, vitórias heroicas, rendições e resistências. Mas será que essa linguagem realmente ajuda ou acaba impondo um fardo ainda maior a quem já carrega o peso da doença?

No artigo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, em coautoria com a Dra. Thais Azzi Gonçalves, o coordenador da Comissão Científica de Câncer de Pulmão da SBPT, Dr. Gustavo Faibischew Prado, nos convida a enxergar por outra perspectiva: e se o paciente não quiser ser um soldado? E se o cansaço for legítimo? E se aceitar não for um sinal de fraqueza, mas de humanidade?

Segundo o autor, a motivação para o texto surgiu de uma inquietação com o uso quase automático dessas metáforas de guerra — uma tentativa, muitas vezes bem-intencionada, de suavizar um tema difícil, carregado de estigma e dor.

“Acho que é isso que sempre me incomodou. Porque determina que aquela pessoa que não teve escolha sobre adoecer, se comporte com coragem sempre, atitudes positivas, enfrentamento incondicional, e não se permita demonstrar tristeza, medo, angústia. Talvez, essas pessoas só desejassem uma vida calma, a sorte de um amor tranquilo, do que morrer como heroi”, aponta.

Para ele, ao substituir a complexidade do adoecimento por expressões heroicas, corremos o risco de impor ao paciente uma expectativa irreal de força, bravura e positividade ininterrupta justamente quando ele mais precisa ser acolhido, e não cobrado.

“Quando o tratamento não responde, quando a dor se intensifica, quando a morte chega, a narrativa da batalha pode transformar o paciente em alguém que ‘não lutou o suficiente’. Mas a doença não é uma guerra. E ninguém deve morrer achando que perdeu”, explica.

O câncer é uma jornada. Feita de dias bons e dias difíceis, de decisões complexas, de dor e de amor, de limites que se impõem, e de afetos que acolhem. “Então, mais do que encerrar a discussão, o artigo nasce com o desejo humilde de provocar uma dúvida, uma reflexão e, talvez, quem sabe, abrir caminho para novas formas de comunicar, cuidar e acolher”, conclui Prado.

Neste Dia Mundial de Combate ao Câncer, convidamos você a ler este belíssimo artigo e a compartilhar dessa reflexão com quem cuida, com quem trata, com quem está ali, junto.

Afinal, repensar a linguagem é também transformar o cuidado.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.