Em entrevista à Diretora de Comunicação da SBPT, Dra. Tatiana Galvão, o pneumologista fala sobre as pesquisas em doenças intersticiais, os planos para a gestão na ERS e a possibilidade de projetos conjuntos com a Sociedade brasileira.
- Dra. Tatiana Galvão: como foi a sua experiência profissional e acadêmica e a trajetória até escolher a sua área de expertise na Pneumologia?
Dr. Carlos Robalo Cordeiro: nasci e tenho vivido em Coimbra, onde me licenciei em Medicina, na Universidade que, este ano, celebra 730 anos e que foi, durante séculos, a única Universidade de língua portuguesa. Aqui também se licenciaram em Medicina o meu pai, a minha mulher e a nossa filha mais nova, uma longa tradição familiar em uma cidade com muita história, conhecida também pela sua tradição e atmosfera acadêmicas.
Curiosamente, a Universidade de Coimbra é a mais internacional em Portugal. Dos seus cerca de 35.000 estudantes, 20% são estrangeiros, incluindo mais de 2.000 estudantes brasileiros na graduação e pós-graduação, sendo a maior Universidade brasileira fora do país.
Tive oportunidade de passar brevemente por Lisboa e por países do centro e norte da Europa, mas foi em Coimbra que comecei a interessar-me, dentro da Pneumologia, pela área da patologia intersticial, a partir dos trabalhos que desenvolvi, sobretudo em lavado broncoalveolar, no serviço onde fiz a residência e que hoje dirijo.
A experiência me levou à função de Secretário do grupo de Patologia Intersticial da ERS entre 2005 e 2008 e depois chair desse grupo, de 2008 a 2011. Nesse período, organizei em Coimbra a 10th International Conference on Bronchoalveolar Lavage, em 2006, uma reunião que foi, durante mais de 20 anos, o palco para a troca de informação sobre as pesquisas mais relevantes dessa área, em todo o mundo.
O interesse particular em interstício também me permitiu colaborar com diversos grupos de grande prestígio dedicados à área no Brasil, especialmente no âmbito da pneumonite de hipersensibilidade e da fibrose pulmonar idiopática.
- Dra. Tatiana Galvão: quais são os seus projetos para a ERS?
Dr. Carlos Robalo Cordeiro: atualmente, a ERS é uma sociedade global, com quase 40.000 membros, originários de cerca de 160 países. Isso é um benefício, mas também uma grande responsabilidade, pois como entidade cimeira no campo respiratório, a ERS tem o dever e a obrigação de estimular e apoiar os avanços do conhecimento na nossa área em todo o globo.
Este é um dos aspectos mais relevantes para o posicionamento da ERS no futuro. Sendo uma sociedade de base europeia, ela é hoje a soma de muitas realidades diferentes, e deve acolher os diversos ambientes geográficos, sociais, econômicos, culturais e a sua variedade nosológica.
É na perspectiva do reforço dos três pilares estruturais da ERS, a Educação, a Ciência e o Advocacy, que se deve fortalecer essa globalização, tendo em atenção áreas estratégicas incontornáveis, como o envelhecimento da população e as múltiplas comorbilidades associadas, o reforço da medicina de precisão, o foco na prevenção da doença respiratória, os custos dos novos medicamentos e acessibilidade do doente aos cuidados de saúde, as alterações climáticas e a poluição ambiental, a revolução digital, entre muitos outros aspectos da atualidade para os quais a ERS tem a obrigação de informar, formar e aconselhar os seus membros.
Essas informações são veiculadas, sobretudo, nos âmbitos científico e educacional, pelas múltiplas publicações da ERS, que vêm aumentando a sua visibilidade e impacto. Um bom exemplo foi a recente atribuição de um relevante fator de impacto à European Respiratory Review. É fundamental apoiar e criar condições para que todas as revistas e livros que a sociedade edita permitam reforçar a afirmação da ERS no panorama internacional.
O mesmo suporte deve ser potenciado para a promoção do maior congresso internacional na área respiratória, o Congresso anual da ERS, mesmo que apenas em formato digital, como acontecerá este ano, em função da pandemia que estamos vivenciando.
Este é um fórum de encontro, discussão e renovação de conceitos a um nível global e, assim, deverá continuar a ser apoiado como a ação de formação mais universal em patologia respiratória.
Foi durante o meu mandato de Secretário Geral que se criou a figura do Early Career Member, que engloba os membros com menos de 40 anos. Este é um compromisso que se pretende expandir e reforçar, numa perspectiva de renovação e de preparação do futuro da ERS.
- Dra. Tatiana Galvão: como a ERS e a SBPT poderiam estreitar laços nos próximos anos?
Dr. Carlos Robalo Cordeiro: a SBPT representa uma das mais relevantes parceiras da ERS, não apenas em dimensão como também em posicionamento estratégico. Pretende-se, assim, desenvolver e ampliar esta parceria, nas suas diversas dimensões:
– No congresso internacional da ERS, com a manutenção do dia em português e espanhol, com a participação da SBPT na World Village e com o estímulo à participação ativa dos seus membros como palestrantes e moderadores de sessões, com envio do maior número de abstracts.
– Com o reforço da participação na CERS (Conferência das Sociedades Respiratórias Europeias), onde a SBPT tem lugar como observadora. Este é um fórum que se deseja fortalecer como catalisador de ideias e sugestões para o funcionamento em rede da ERS e onde a SBPT terá voz.
– Na ligação ao programa HERMES, que poderá constituir uma ponte educacional permanente, com certificação reconhecida.
– Na implementação de Residências Médicas de curta duração (até 1 mês), na Europa, para membros da SBPT.
– Na participação ativa de mais membros da SBPT nas Clinical Research Collaborations (CRC) e em Task Forces geradoras de guidelines, em áreas que poderão compreender as infecções respiratórias, a patologia pulmonar vascular, a patologia do interstício e ocupacional, entre tantas outras.
– Na reabilitação do projeto da Associação Respiratória de Língua Portuguesa (ARELP), na afirmação da língua portuguesa como elo, partilha de saber e de promoção facilitada do acesso à formação e ao conhecimento na área respiratória em língua portuguesa.
Dr. Carlos Robalo Cordeiro, candidato a Vice-Presidente da ERS