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Dia Nacional de Combate ao Fumo: avanços e desafios no Brasil

No dia 29 de agosto, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A ocasião vai além da simbologia do calendário. É um convite à reflexão sobre uma das maiores ameaças evitáveis à saúde pública. Apesar da redução histórica no número de fumantes nas últimas décadas, a epidemia da nicotina persiste no país, agora impulsionada pela iniciação precoce entre jovens, pelo avanço dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) e pelas desigualdades sociais que perpetuam a exposição e o consumo.

Segundo o III Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD III), atualmente 15,5% da população brasileira com 14 anos ou mais — cerca de 26,8 milhões de pessoas — fazem uso de nicotina, seja por cigarro convencional, dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) ou ambos. A forma mais comum é o uso exclusivo do cigarro (9,9%), seguida do uso exclusivo de DEFs (3,7%) e do uso combinado, ou dual (1,9%).

Apesar da crença difundida de que os DEFs poderiam reduzir o consumo de cigarros, os dados apontam que 77,6% dos usuários de DEFs afirmam que o dispositivo não diminuiu o hábito de fumar; apenas 8,9% pararam de fumar após a adesão a esses produtos. O quadro se agrava pelo fato de que 76,3% dos adolescentes que experimentaram DEFs mantiveram o uso e que 80,7% deles consideram fácil ter acesso a esses dispositivos, o que evidencia a vulnerabilidade dessa faixa etária.

A iniciação em idade jovem é também preocupante, uma vez que 26,1% dos fumantes começaram antes dos 14 anos, e entre os adolescentes fumantes, 37,6% relataram início precoce. Esses dados indicam que o contato com a nicotina acontece cada vez mais cedo, ampliando o risco de dependência e comprometendo gerações futuras.

Outro aspecto alarmante é o fumo passivo. O levantamento mostra que 45,2% dos adolescentes relatam que pelo menos um dos pais fuma ou fumou, enquanto 16,5% convivem com alguém que fuma dentro de casa, um índice superior ao observado entre adultos (11,7%). Além disso, quase metade dos fumantes (48,1%) admite fumar dentro da própria residência, perpetuando a exposição dos familiares.

O perfil sociodemográfico também revela desigualdades: a prevalência é maior entre homens (13,9%) do que entre mulheres (9,7%), atinge o pico entre 50 e 64 anos (15,5%) e é inversamente proporcional à escolaridade — de 16,5% entre iletrados para 9,2% entre indivíduos com ensino superior. A renda também pesa: os de menor poder aquisitivo apresentam maior prevalência (13,2% entre os que recebem até um salário mínimo), reforçando as desigualdades sociais e regionais relacionadas ao tabagismo.

Ainda assim, os últimos 17 anos demonstram avanços. Entre 2006 e 2023, a taxa de fumantes caiu de 19,3% para 11,7%, uma redução relativa de 39,4%, mais acentuada entre adolescentes (de 6,2% para 1,7%) do que entre adultos (20,8% para 12,5%). Contudo, a presença dos DEFs e o consumo persistente de cigarros tradicionais mostram que o problema está longe de ser superado.

O levantamento aponta também que 35,9% dos fumantes consomem 20 ou mais cigarros por dia, e quase um quarto apresenta grau alto ou muito alto de dependência segundo a Escala de Fagerström. Embora 57% dos fumantes declarem alta motivação para parar, apenas 10,6% já buscaram tratamento e somente 4,1% o fizeram no último ano, sendo a atenção primária o serviço mais procurado.

Em meio a esses dados, o Brasil tem diante de si um dilema: a percepção de risco é alta — mais de 90% reconhecem os malefícios do cigarro e dos DEFs —, no entanto essa consciência não se traduz em proteção efetiva enquanto o acesso permanecer amplo. A iniciação precoce, a exposição passiva e o consumo pesado seguem alimentando desigualdades sociais e regionais, mantendo viva a epidemia da nicotina.

Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo – inserido no Agosto Branco, que é o mês dedicado à conscientização sobre o câncer de pulmão – a mensagem ganha ainda mais força. Combater o tabagismo é fundamental para prevenir o câncer pulmonar e outras doenças respiratórias graves.

A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) destaca a urgência de políticas públicas consistentes, como tributação progressiva, fiscalização efetiva, campanhas educativas permanentes e o fortalecimento do acesso a programas de cessação do tabagismo. A mobilização coletiva é imprescindível para proteger as novas gerações, frente a um risco antigo que hoje assume também novas formas, como os dispositivos eletrônicos de fumar.

Para ler o levantamento na íntegra, clique aqui.