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Dia da Mulher Médica: desafios, conquistas e inspiração

Hoje celebramos o Dia da Mulher Médica. Uma data para refletir a trajetória de conquistas e desafios historicamente enfrentados pelas mulheres para exercer a Medicina e inspirar gerações futuras a seguirem avançando na construção de um cenário cada vez mais inclusivo e equitativo para todos os profissionais de saúde. 

Projeções da Demografia Médica 2023, publicada pela Associação Médica Brasileira (AMB), indicam que pela primeira vez na história, a medicina no país se tornará uma profissão predominantemente feminina, com as mulheres compondo maioria entre os profissionais brasileiros. Em 2023, as mulheres já representavam 49,3% dos profissionais médicos no país e as projeções indicam que esse percentual poderá atingir 50,2% em 2024. 

Um avanço notável, considerando que, na década de 1920, as mulheres representavam 21,5% dos médicos, chegando a apenas 13% nos anos 1960.

Tal ascensão também tem chegado às lideranças das grandes sociedades médicas, historicamente dirigidas por homens. Em 2024, pelo menos nove das 54 sociedades de especialidades afiliadas à AMB possuem mulheres na presidência. 

“Temos conseguido sim ocupar mais espaços. Atingimos um nível de qualificação na área médica, que nos permite desempenhar ações e tarefas de liderança, tanto na área privada, na saúde suplementar, quanto na área pública, na área da pesquisa. Todas nós temos essa dupla jornada entre produzir pesquisa e trabalhar na área assistencial ou mesmo na área gerencial, então não há dúvida de que houve uma modificação de padrão”, destaca a presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Dra.Margareth Dalcolmo.

Apesar de representarem grande percentual na força de trabalho das mais diversas frentes da área médica, a presidente lembra que, no final do dia, todas essas profissionais ainda voltam para suas casas para o chamado terceiro turno.

“Nós saímos para trabalhar, nós temos família, e ao chegar em nossas casas, nós ainda temos os trabalhos domésticos, muitas vezes, a resolver. Lembrando que mulheres hoje são chefes de família em muitas situações. A exigência que recai sobre nós nesse sentido, respondendo à nossa própria exigência de produzir conhecimento, trabalhar como médico, trabalhar em pesquisa, ensino e todas as áreas das quais nós somos muito atraídas por elas, é, sem dúvida, um grande desafio”, reitera.

Enquanto algumas sociedades estreiam o comando de mulheres em suas respectivas presidências, a SBPT já celebra três presidentes em sua história. Além da Dra. Margareth Dalcolmo, presidente em exercício, a sociedade já contou com outras duas renomadas médicas no cargo: a Dra. Irma de Godoy, que presidiu em 2021 e 2022 e a Dra. Jussara Fiterman, que foi a primeira presidente mulher da sociedade, eleita para o biênio 2009 e 2010.

Dra. Jussara Fiterman – Gestão SBPT 2009/2010

 

“Entendi logo que isto era uma grande responsabilidade. Sabia que outras viriam e que, com certeza, iriam brilhar. Mas, para isso, era preciso marcar essa trajetória inicial de forma serena e ao mesmo tempo irrefutável. Eu tinha uma história concreta na sociedade e já havia passado por muitas etapas de aprendizado. Então, me senti segura para montar um grupo com predominância feminina: eu, do Rio Grande do Sul, uma colega do Rio de Janeiro na diretoria científica, uma colega de São Paulo, para a diretoria de ensino e duas colegas de Brasília para finanças e segunda secretária”, compartilha Jussara Fiterman. 

Apesar dos avanços, ela acredita que ainda existem desafios a serem superados, especialmente relacionados a discrepâncias salariais. No entanto, ressalta que, do ponto de vista prático, não vê diferença entre homens e mulheres na medicina. “Hoje, as mulheres não apenas desempenham papéis fundamentais na prática clínica, mas também lideram em áreas como pesquisa e tecnologia médica”, conclui.

Assim como sua antecessora, Ilma de Godoy também já havia ocupado algumas funções na sociedade, antes de se candidatar à presidência. “A Dra. Jussara agregou valores femininos importantes à sociedade. A partir disso, compreendi que o mais importante era a diversidade. De sexo, de raça, de nacionalidade, de religião. Ela é fundamental para o funcionamento e para o sucesso de qualquer grupo ou comunidade. Cada ser humano é único, com habilidades diferentes, experiências diferentes, pontos de vista diferentes e quando tudo isso é agregado, ele pode operar milagres. Culturalmente, as mulheres vivem experiências diferentes e, portanto, desenvolvem habilidades diferentes. Então, ao ocuparmos esses postos de comando, podemos trazer novos conceitos, olhares e vivências”, relata Irma de Godoy.

Mesmo com as diferenças salariais, o trabalho doméstico exercido após uma longa jornada de trabalho e até mesmo o etarismo, que recai com muito mais força sobre as mulheres, os obstáculos têm sido vencidos e os espaços ocupados.

“Acho que um recado que eu daria, às mais jovens, às nossas residentes que enfrentam os mesmos desafios que nós enfrentamos é que não se valham apenas de uma questão de gênero. Nós merecemos ocupar o espaço que hoje nós ocupamos porque temos competência para isso. Do ponto de vista de competição, estamos perfeitamente iguais, em condições equânimes e exigimos condições equânimes de competir, de ganhar, de sermos remuneradas, de sermos reconhecidas em qualidade e em igualdade, em absoluta equidade com todos os outros colegas, independentemente de gênero. Então o meu conselho é não façam do gênero um argumento, façam do gênero uma inspiração”, arremata Margareth Dalcolmo.