Em alusão ao Dia Mundial do Meio Ambiente, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) se une à campanha promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que neste ano tem como foco os microplásticos — poluentes invisíveis aos olhos, mas com efeitos cada vez mais visíveis sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Presentes em todos os biomas do planeta, os microplásticos vêm sendo detectados no ar, na água, no solo, em alimentos e até mesmo em formações geológicas. A produção de plástico saltou de 2 milhões de toneladas em 1950 para mais de 400 milhões de toneladas atualmente, e segue em expansão. Grande parte desse material não é reciclado: apenas 10% globalmente, e no Brasil, esse índice é de apenas 1%.
Embora frequentemente apontada como uma solução, a reciclagem de plástico tem se mostrado ineficiente e, muitas vezes, mascarada por discursos de marketing ambiental. Na prática, o que ocorre é a chamada subciclagem — quando o plástico é reaproveitado em produtos de menor valor e utilidade limitada, sem fechar de fato o ciclo produtivo.
Além disso, o processo de reciclagem no país depende em larga escala do trabalho de catadores informais, muitos em condições de extrema vulnerabilidade social e sem equipamentos de proteção individual adequados. Esses profissionais, essenciais para a cadeia de resíduos sólidos, estão expostos diariamente à poeira, a contaminantes químicos e biológicos, e a microplásticos inaláveis, o que representa um risco adicional à saúde respiratória.
No campo científico, os microplásticos já foram identificados em tecidos pulmonares humanos. Em um dos estudos mais recentes, 13 de 20 pacientes analisados apresentaram partículas plásticas no tecido pulmonar, com tamanho médio de 3 micrômetros — compatível com a penetração até os alvéolos.
Partículas recicladas, inclusive, têm demonstrado níveis ainda mais elevados de toxicidade devido à contaminação cruzada de resíduos no processo de reaproveitamento.
Ambientes internos, como escritórios, escolas, hospitais e residências, são os principais locais de exposição, concentrando até três vezes mais microplásticos no ar do que ambientes externos, em função da ventilação reduzida e da presença massiva de objetos plásticos no mobiliário e nos têxteis.
Modelos animais de pesquisa demonstraram alterações no transcriptoma pulmonar, especialmente em genes ligados à resposta inflamatória e à imunidade. Partículas oriundas de garrafas PET, em particular, foram as mais tóxicas nesses estudos.
Há indícios consistentes de que os microplásticos possam agravar condições como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), reduzir níveis de alfa-1 antitripsina — uma importante proteína protetora pulmonar — e até contribuir para mecanismos carcinogênicos, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essas relações de causa e efeito em humanos.
Diante desse panorama, a SBPT reforça a necessidade urgente de políticas públicas que reduzam a produção de plásticos, especialmente os de uso único, e que estimulem alternativas seguras, sustentáveis e socialmente justas.
Por isso, neste Dia Mundial do Meio Ambiente, convidamos toda a sociedade — profissionais de saúde, autoridades públicas e cidadãos — a refletir sobre a profunda conexão entre a degradação ambiental e os impactos sobre a saúde respiratória.
Os sócios da SBPT não apenas podem, como são incentivados a se aprofundar no tema por meio da excelente aula da Dra. Thais Mauad, apresentada durante o Congresso da SBPT do ano passado — conteúdo que, inclusive, serviu de base técnica para a elaboração deste texto.
Participantes do congresso já têm acesso gratuito à aula. Interessados que não participaram podem se inscrever para assistir ao conteúdo completo.
Para assistir a aula, clique aqui.