Dadas as condições atuais de seca, queimadas, poluentes sólidos e altas temperaturas em todo o país, a Comissão de Doenças Respiratórias Ambientais e Ocupacionais (DRAO) da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) elaborou um texto complementar ao documento da Associação Amazonense de Pneumologia e Cirurgia Torácica, publicado no site da SBPT há duas semanas.
Segue abaixo o texto complementar da Comissão na íntegra:
Recomendações sobre o aumento das concentrações de poluentes no ar que está ocorrendo em vários estados
Nos últimos meses têm sido registradas concentrações muito elevadas de poluentes em centenas de cidades na região Norte – principalmente nos estados do Amazonas, Rondônia, Acre e Mato Grosso. Nos últimos 30 dias queimadas e elevação abrupta dos poluentes atingiram todo Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul do país. Entre os dias 9 e 12 de Setembro amostradores da CETESB em São Paulo revelaram valores de 200 micrograma/m³ na cidade de São Paulo, superando 300 microgramas/m³ de material particulado (MP10) na cidade de Cubatão. A OMS recomenda não ultrapassar 45 microgramas/m³ 3-4 dias no ano.
Além da poluição decorrente do amplo predomínio do uso de combustíveis fósseis na frota veicular brasileira e em industrias já ser elevada, e somando-se à prolongada seca e queimadas florestais nas Regiões Centro-Oeste e Amazônica, incluindo extensas áreas de cerrado e mesmo caatinga, nestes últimos meses assistimos um elevado número de focos de incêndio em canaviais e áreas de mata em São Paulo.
Sem entrar no mérito das origens dos focos – se criminosos de todo tipo, se decorrente do emprego inadequado da queima para uso da terra, se da queima de resíduos sólidos urbanos – em investigação por autoridades policiais e pelo Ministério Público, os níveis alarmantes de poluentes observados, com previsão que se estendam por todo o mês de setembro impõem a adoção de medidas drásticas e imediatas.
As concentrações de poluentes sólidos observadas aumentam o risco de adoecimento e de óbitos, especialmente de idosos, de pessoas com doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas, com diabetes, doenças autoimunes, bebês e crianças (embora não poupe também pessoas hígidas). Com as altas temperaturas fora de época e a seca, enfrentamos dias sucessivos de baixa umidade relativa do ar.
A combinação de elevadas concentrações de poluentes, altas temperaturas e baixa umidade do ar aumentam o risco de danos à saúde.
Medidas de Mitigação Necessárias
Na esfera pública
1.1 Todos os esforços e recursos devem ser mobilizados pelas várias esferas de governos e pelos donos de terras para conter, apagar e evitar novos incêndios.
1.2 Estabelecer canais de comunicação adequados com a população sobre os indicadores de poluição e medidas de mitigação dos efeitos
1.3 As Prefeituras devem implantar, de imediato, bebedouros públicos de água potável, à semelhança do que existem em muitas cidades em outros países, e como ocorreu em algumas cidades durante a pandemia da COVID- 19. Importante para ajudar a manter as pessoas bem hidratadas, inclusive as que vivem em situação de rua.
2. Para grupos de risco
Pessoas portadoras de doenças crônicas metabólicas, cardiovasculares e respiratórias e imunocomprometidas (por doença ou pelo uso de medicamentos), crianças até 2 anos e adultos com 65 anos ou mais. Nestes grupos há um aumento do risco de infecções respiratórias.
2.1. Manter-se hidratadas evitando a sobrecarga hídrica nos pacientes com insuficiência cardíaca;
2.2. Devem permanecer o maior tempo possível no interior dos domicílios e com janelas fechadas, mas não imobilizadas para evitar riscos de eventos tromboembólicos;
2.3. Devem evitar a realização de exercícios físicos, neste período, pois durante o exercício aumenta a inalação de poluentes e os efeitos dos mesmos;
2.4. É recomendável o uso de máscaras, se possível N95 ou PFF 1, 2 ou 3 (a mais eficaz), apesar de caras e menos disponíveis. Máscaras cirúrgicas e máscaras de outros tecidos protegem bem menos nestes níveis de poluentes e têm poucas horas de duração, mas melhor do que não usar;
2.5. No caso de portadores de doenças, manter o tratamento habitual. Caso haja sinais de descompensação, procure orientação médica rapidamente.
3. Pessoas hígidas
3.1 Devem evitar a realização de exercícios ao ar livre e o tempo de exercício não deve exceder a 30 minutos/dia;
3.2. Devem manterem-se hidratadas;
3.3. Devem usar máscaras em ambientes externos;
4. Medidas especiais devem ser adotadas para os que trabalham em ambientes externos, como entregadores, operadores de tráfego, policiais, motoristas profissionais em geral, trabalhadores rurais, na construção civil. São recomendáveis a redução de jornadas de trabalho diária e semanal e a utilização de máscaras.
5. Assim como ocorreu na pandemia da COVID-19 estímulo ao trabalho em casa, aulas remotas onde não houver prejuízo aos alunos, durante setembro.
6. Medidas para melhorar o interior das residências
6.1 Manter a residência fechada (portas externas, janelas, frestas), quando possível
6.2 Umidificar o ambiente com tinas d’água, toalhas molhadas ou umidificadores. Quando possível utilizar um instrumento medidor de umidade relativa do ambiente para melhor controle. Idealmente, a umidade relativa deve ficar entre 40 e 60%.
6.3 Utilizar aparelhos purificadores de ar (sem produtos químicos), quando possível.
6.4 Manter a residência limpa. O material particulado se deposita na residência e pode ser ressuspendido durante o movimento de pessoas. Sempre utilizar panos úmidos ou aspirador para limpeza e não vassouras.
Comissão DRAO- SBPT
São Paulo 13/09/2024