Entre os indivíduos considerados “grupos de risco” pela probabilidade de desenvolverem formas mais severas da COVID-19 estão os portadores de doenças respiratórias crônicas, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, a Asma Brônquica e outras doenças que alteram fisiopatologia e a estrutura do sistema respiratório, facilitando a instalação de infecções respiratórias pelo comprometimento dos mecanismos normais de defesa local e sistêmica.
Embora não existam estudos específicos de Covid-19 em portadores de pneumoconioses, esse grupo de doenças, como a silicose, a pneumoconiose dos mineiros de carvão, a asbestose e as pneumoconioses por poeiras mistas, como ponto comum, apresentam áreas de fibrose com diferentes graus de colagenização alterando a estrutura do parênquima e das vias aéreas menores, predominantemente[1].
A patogenia das pneumoconioses envolve também uma cascata de fenômenos inflamatórios no microambiente pulmonar e sistêmico. Esses fatores são facilitadores da colonização por microorganismos e de instalação de infecções respiratórias. Citamos como exemplo a alta prevalência de tuberculose em expostos à sílica.
Além das alterações inerentes à doença, portadores de pneumoconiose geralmente são indivíduos do sexo masculino, de faixas etárias mais elevadas e com determinantes sociais que dificultam a manutenção de um isolamento social efetivo. Ressalta-se que, esse perfil sofre diferenças em dependência das regiões do país e peculiaridades das atividades econômicas. Com frequência, como por exemplo, no estado de MG, pacientes com silicose provenientes de garimpos e de lapidações são trabalhadores autônomos e/ou informais, jovens, com dificuldades de acesso a serviços de saúde[2].
Portanto trata-se de uma população de alta vulnerabilidade para efeitos graves da COVID-19.
Sugerimos, através deste documento, que os serviços de referência em Pneumologia Ocupacional, Saúde do Trabalhador, Ambulatórios de Doenças Intersticiais e Serviços de Pneumologia, que possuem cadastro de portadores de pneumoconiose, enviem informações individuais (por exemplo, mensagem via celular) ou e-mails aos órgãos municipais das cidades de maior ocorrência de pneumoconioses, com informações destinadas à proteção individual e alerta aos próprios serviços municipais que tenderão a ter maior demanda de casos graves.
Cada paciente deve ser bem informado de sua doença e ter em mãos, sempre que possível, a descrição de sua condição clínica, seu exame de imagem e de função pulmonar, para facilitar atendimentos em situações de emergência.
Este documento não trata de propor medidas diferentes daquelas amplamente divulgadas, mas um reforço aos cuidados divulgados para grupos de risco, notadamente o distanciamento social, a higiene pessoal e da habitação, o uso de máscaras, a manutenção regular de medicamentos para doenças associadas como, diabetes e doença pulmonar obstrutiva crônica e, muito importante, a vacinação contra influenza e pneumococo.
Por se tratar de uma nova doença, outras orientações poderão ser recomendadas, conforme novas evidências relacionadas à prevenção, tratamento e, possivelmente, vacinação específica, sejam descritas.
Comissão Científica de Doenças Ocupacionais e Ambientais da SBPT.
Referências
[1] Disponível em https://dai-global-digital.com/covid-19-data-analysis-part-1-demography-behavior-and-environment.html. Acesso em 13/04/2020.
[2] Disponível em https://www.artisanalgold.org/2020/03/possible-impacts-of-covid-19-on-asgm-communities/. Acesso em 13/04/2020.