Em incêndios de grandes proporções e em locais confinados, como aconteceu no CT do Flamengo, as vias aéreas são prejudicadas pela inalação da fumaça em alta temperatura e das substâncias tóxicas liberadas no processo de queima. Nesses casos, asfixia é a causa de morte mais provável. Veja como acontece o processo de falta de oxigênio no ambiente e no organismo.
A notícia do incêndio que atingiu o CT Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro, na manhã de 8 de fevereiro de 2019 causou comoção geral, especialmente para as famílias dos jogadores do time do Flamengo e para os mais de 30 milhões que fazem parte da maior torcida do país.
Muitos fatores contribuem para que a morte por asfixia seja a mais rápida no caso de um incêndio, ainda que o dano físico seja o primeiro a ser lembrado.
Isso porque, o processo de combustão dos colchões, madeiras, etc., consome o O2 do ambiente, e o produto dessa queima incompleta é um gás de grande toxicidade: monóxido de carbono (CO). Portanto, à medida que os níveis de oxigênio vão caindo, a liberação de monóxido de carbono aumenta.
Acontece que as moléculas de CO têm grande afinidade química com a hemoglobina do sangue (Hb), cerca de 250 vezes maior que a do O2, e se ligam a ela, impedindo o transporte do oxigênio até as células e levando à asfixia.
Os sinais mais comuns da falta de oxigênio são tosse, respiração ruidosa e dificultosa, agitação, palidez, dilatação das pupilas, estado de inconsciência e coloração azulada da face e extremidades (cianose).
Além de monóxido de carbono, outros poluentes químicos altamente tóxicos para os pulmões podem ser liberados no incêndio, como material particulado (PM) e gases como o dióxido de carbono e óxidos de enxofre e de nitrogênio (CO2, SOx, NOx, NO2, etc.), além de aldeídos e ácidos.
No caso da tragédia do time do Flamengo, há o agravante da queima de poliuretano, componente utilizado na fabricação de resinas e espumas, como a dos colchões do alojamento.
Sob altas temperaturas, o poliuretano libera gás cianeto (CN-), que quando inalado, se liga às enzimas de dentro das mitocôndrias das células do organismo, impedindo a célula de utilizar oxigênio e produzir energia.
As vítimas expostas ao calor e ao ambiente tóxico precisam ser examinadas por um pneumologista para investigar outras prováveis complicações além da asfixia, como laringotraqueíte, bronquiolite, pneumonite, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), entre outras.
Informações: Comissão de Doenças Ambientais e Ocupacionais da SBPT.